sábado, 24 de dezembro de 2022

Campeão Paraense em 1949

 

Em termos de títulos, pode-se dizer que os anos 40 foram os piores da história do Clube do Remo. Depois do campeonato de 1940, os remistas ficaram intermináveis nove temporadas com o grito de "É campeão!" entalado na garganta. Nesse período viu o domínio dos rivais, Paysandu e Tuna, arremataram a totalidade das competições - excetuando 1946 em que não houve campeonato. A situação só começaria a mudar na segunda metade da década, depois do advento do profissionalismo (1945), do qual o Remo foi o precursor. 

Algum tempo depois, os frutos começaram a surgir. É nesse período, por exemplo, que vem jogadores como o uruguaio Veliz, goleiro que defendeu ferrenhamente por mais de 10 temporadas o arco azulino; o mineiro Jambo, um dos primeiros profissionais do estado, considerado o melhor “centro-médio” da época; e o baiano Quiba, o "mais perigoso meia-direita da cidade".

A esses importados juntaram-se os melhores valores da terra. A dupla de zaga, por exemplo, era composta por Expedito — o único remanescente do título de 1940 — e Isan, o mais completo marcador de “centro". Fazendo companhia a Jambo no meio, estavam Pelado e Muniz, ambos com histórico na Tuna, mas este último com experiencia em outros estados, como Pernambuco e Amazonas. Mas era o ataque, o ponto forte dessa equipe: além do já citado Quiba, o Remo contava com Gejú, Itaguari – os três no top 15 de maiores artilheiros azulinos na história –, além de Silvio, Marido e Jaime, que seria condecorado pela A Província do Pará, como o craque do ano do futebol paraense.

O Remo mostrou-se time versátil e perfeitamente ajustado em suas linhas. Praticava um futebol vistoso e eficiente, tanto é que acostumou-se a golear seus adversários, construindo seus placares logo no início dos jogos. Para se ter uma ideia, entre 1948 e 1949, o Leão venceu 12 dos 16 Re-Pa's que disputou, fazendo 48 gols e impondo acachapantes goleadas, como: 6 a 2 em 07/09/1948, 5 a 3 em 10/04/1949, 6 a 2 em 17/04/1949, 5 a 2 em 05/06/1949 e 5 a 3 em 13/11/1949. Detalhe: com exceção deste último jogo, todos ocorreram na Curuzu.

Essas vitórias foram o prenúncio do fim do jejum. Sob os comandos do vitorioso técnico Nagib Matni, os remistas mantiveram o desempenho no certame estadual. Auto Clube do Pará e Paulista foram presas fáceis; apenas os velhos rivais Tuna e Paysandu proporcionaram algum tipo de combatividade ainda no primeiro turno da competição. Mas no returno, não teve jeito, o Remo atropelou cada um dos demais participantes, credenciando-se para a final juntamente com o Paysandu.

Era a grande chance do Clube do Remo de reconquistar o cetro de campeão após quase uma década em branco. O confronto estava cercado por muitas expectativas. No Re-Pa do primeiro turno, o Paysandu levou a melhor por 1 a 0; mas no returno o Remo devolveu com juros, aplicando-lhe imponentes 5 a 3. Com uma vitória para cada lado, o tira-teima seria definido em uma melhor-de-três que, na realidade, acabou nem acontecendo.

Já no primeiro jogo, em pleno Natal de 1949, o Remo presenteou a sua torcida com uma vitória de 3 a 1 no Baenão, garantindo uma boa vantagem para a segunda partida, na Curuzu. Esta se deu já em 1950, dia 08/01. A Província do Pará do dia anterior se reportava ao jogo como o “choque-sensação”, onde, curiosamente, estariam “em luta os dois Leões”. Mas na Amazônia só existe um Leão e este mostrou toda a sua imponência. 

Mesmo que tenha sofrido uma certa pressão inicial dos adversários desesperados em reverter a desvantagem, o Remo soube se defender e abriu o placar aos 25 minutos do primeiro tempo, com Geju — substituto de Silvio naquela ocasião. Daí em diante, o Paysandu foi presa fácil. Jaime fez o segundo no final do primeiro tempo. Na segunda etapa, Jambo marcou de falta o terceiro logo aos quatro minutos; por fim, Jaime, novamente, fechou a goleada que ainda teve um tento de honra listrado. 

Com 7 a 2 no agregado, nem foi preciso o jogo-desempate. O Remo sagrou-se campeão paraense de 1949, com oito vitórias, um empate e uma derrota. Foi o desfecho do martírio azulino e o começo do bicolor, que passaria igualmente nove temporadas sem conquistar o troféu do estadual (1947 a 1956), aguentando o Filho da Glória e do Triunfo devolver os cinco títulos — bicampeonato em 1949/50 e tri em 1952/53/54 — e retomar a hegemonia no Pará.

A Província do Pará, de 10/01/1950, informou:

"Vitória da classe e do destemor — Abatendo o Paisandú, de 4 a 1 sagrou-se o Remo campeão de 49 - O cetro do futebol citadino foi parar às mãos dos azues, depois de uma jornada brilhante, em que o grande esquadrão do velho clube de Rubilar, de jôgo para jôgo, pôde evidenciar uma pujança verdadeiramente admirável. (...) Não foi a vitória remista à base de fatores outros, fortuitos e menos auspiciosos. Mas, isso sim, a vitória do mérito real, inconteste. Vitória da classe e do destemor. Uma linha reta entre a fôrça de vontade, o trabalho construtivo e a glória".

Nilo Franco, em sua coluna na mesma edição do jornal, escreveu sobre o título:

"O MAIOR... — (...) Depois de nove anos, volta-lhe o cetro dignificado por uma jornada realmente brilhante, engrandecido pelos feitos mais heróicos. E volta porque o Remo tudo soube fazer por conquistá-lo. Foi sempre e mais e mais a cada jogo um grande quadro cheio de indômita bravura, de admirável destemor, preliando com  classe e com dignidade. Foi, enfim, o maior".

terça-feira, 20 de dezembro de 2022

Campeão Paraense em 1940

 
Atletas azulinos saudando a torcida na vitória de 3 a 2 do Clube do Remo sobre o Paysandu, em 03/11/1940 (Folha do Norte).

Após a conquista do Campeonato Paraense de 1936, o Clube do Remo brigou com a Liga Atlética Paraense - regente do esporte no estado na época - e abriu mão de disputar o certame de 1937. Retornou no ano seguinte, mas não impediu o bicampeonato da Tuna. Já em 1939, o título ficou com o Paysandu que montou um dos seus grandes times, o chamado "esquadrão de aço".

Já era hora do Leão reassumir o protagonismo no estado. Então em 1940, os azulinos realizam uma ótima campanha no campeonato. Porém, os tropeços diante de Tuna e Paysandu — 1 x 2 e 1 x 1, respectivamente — colocam o Remo em desvantagem perante os seus maiores adversários na competição. E era justamente contra eles que se encerraria a campanha azulina naquele certame. Só a vitória interessava!

No dia 20/10/1940, o Remo se recupera e consegue a sua revanche contra a Lusa, vencendo-a por 3 a 2, no Souza. Com isso, o Leão ultrapassou os cruzmaltinos, ficando agora com três pontos perdidos contra quatro - era assim que se lia a pontuação na época, com a derrota contabilizando a perda de dois pontos e o empate, um. Todavia, o Clube de Periçá ainda estava atrás do Paysandu (um ponto perdido).

Diante disso, no Re-Pa programado para o dia 03/11 era de se esperar um certo favoritismo do lado bicolor, não apenas por estar à frente, mas também por jogar em casa, na Curuzu. Entretanto, os remistas não ligaram para isso e buscaram um grande triunfo, repetindo o placar de 3 a 2, gols de Bendelack e Vavá (2). Foi só aguardar a Tuna vencer o Paysandu por 3 a 1, em 19/01/1941, para o Remo confirmar o seu 14° (e último) título paraense do amadorismo. 

Ao que parece, mesmo ocupando o posto máximo do futebol paraense, o Clube do Remo foi alvo de críticas por precisar de uma combinação de resultados para ser campeão. Mas a Folha do Norte, de 21/01/1941, saiu em defesa do Filho da Glória e do Triunfo: 

"Muita gente que se perde nas nas alternativas do certame em relacionar os fatos, atribuiu essa conquista a uma simples questão de chance. Engano envolvendo flagrante justiça. Basta rememorar as etapas azulinas durante o campeonato, a ‘performance’ do quadro através de marcadores vultuosos, assegurando vitórias brilhantes, as condições em que chegou às finais, para que se considere o grande Clube merecedor do bastão futebolístico regional".

quinta-feira, 15 de dezembro de 2022

Campeão Paraense em 1968 (Invicto)

CLUBE DO REMO - CAMPEÃO PARAENSE EM 1968 (INVICTO)
Em pé: Jorge, Alemão, China, Casemiro, Ângelo e Edilson;
Agachados: Birungueta, Robilotta, Amoroso, Celso e Zequinha.

O título paraense de 1968 é um mais emblemáticos da história. Primeiro pelas circunstâncias em que se sucederam o vice no anterior,  no qual em uma série de Re-Pa's seguidos, o Clube do Remo sagrou-se campeão do segundo turno, mas não foi capaz de evitar o tricampeonato do rival. Portanto, reconquista do estadual era prioridade máxima nos arraias azulinos.

Para tanto, o Remo vendeu o zagueiro Assis para o Fluminense-RJ por NCR$ 80.000,00 e aproveitou para comprar em definitivo o atacante Amoroso, que estava emprestado ao Leão pelo clube carioca. Amoroso fora destaque remista em 1967, tornando-se artilheiro do Parazão com 19 marcados. Além disso, o Mais Querido atravessou Robilotta, goleador do Paysandu no tricampeonato de 1965-66-67. 

Com esse ataque infernal, o Mais Querido atropelou os seus adversários. Enfrentando Combatentes, Tuna, Sacramenta, Sport Belém e Paysandu, em jogos de turno e returno, os azulinos venceram nove jogos seguidos, conquistando o primeiro turno nesse percurso e chegando à última partida, contra o Paysandu, no dia 14 de julho de 1968, precisando apenas de um empate para conquistar o troféu.

A expectativa era tamanha que mesmo o jogo sendo na Curuzu, a torcida azulina era maioria. Todas as atenções da imprensa esportiva estavam voltadas para a possibilidade do título azulino, que se tornou ainda mais provável quando Amoroso abriu o placar aos 21' do primeiro tempo, atirando no canto esquerdo da meta do goleiro bicolor Omar.

Entretanto, o Paysandu reagiu e virou o escore através dos gols de Hélio Cruz aos 40' do primeiro tempo e Edinho, ex-azulino, aos 12' do segundo. Por sorte, quando o ponteiro marcava 37', novamente Amoroso, fazendo jus ao seu apelido "Pé de Coelho", em lance de extrema perspicácia e oportunisto, aproveita a bobeira da defesa bicolor e consegue o oportuno empate. O único jogo daquele campeonato que o Remo não venceu, mas que lhe valera o título.

"A Província do Pará" assim descreveu o lance:

"A bola vai à linha de fundo. Tiro de méta para o Papão. Omar dá para Abel que devolve. Amoroso vivo, inteligente, entra no lance, rouba a bola e atira para a meta desguarnecida, sôbre espanto dos dois jogadores alvi-azuis e alegria dos remistas. Era o goal do empate, o goal do campeonato. (...) Remo, campeão invicto de 1968! Um ponto perdido apenas!".

Segue a "A Província": 

"A culminar uma campanha particularmente brilhante, a equipe de profissionais do Clube do Remo manteve a sua condição de invicta e, empatando a 2 tentos com o Paissandu, conquistou o título regional de 1968. As peripécias do jôgo - como as de todo o campeonato - mostrou a equipe 'azulina' fortalecida, de alma lavada, destemida e preparada para enfrentar a luta com espírito de desportivismo. Um campeão sem mêdo e sem mácula! Marcou um goal, cedeu o empate, estêve depois em desvantagem, mas serenamente, sem perturbações conscientemente soube lutar por nova igualdade, para conquistar o título. Houve ansiedade e emoção entre o público, lágrimas de alegria do atleta brioso e lutador, após o término da partida, e a alegria efuziante que se espalhou por tôda cidade. Nas fotos, dos reporteres Airton Quaresma e Fernando Seixas, os lances dos dois goals do Remo (Amoroso), a apreensão estampada na fisionomia 'dum' remista quando o Remo perdia por 2 x 1, Birungueta chorando de emoção, depois de lhe terem levado a camisa e a expressão de alegria na passeata da vitória".

O esquadrão campeão invicto era formado por Jorge; Alemão, China, Casemiro,  Angelo e Edílson; Birungueta, Robilotta, Amoroso, Celso e Zequinha.