quarta-feira, 30 de março de 2022

O Clássico Re-Tu na Visão de um Tunante

O Clássico Re-Tu ganhou novos capítulos para a sua rica história com o retorno da Tuna à Primeira Divisão do Campeonato Paraense em 2021. Assim, finalmente pôde ser disputado um clássico oficial após oito anos. E, surpreendentemente, a Lusa conseguiu eliminar o Remo - até então, invicto - nas semifinais, em disputa de pênaltis.

Entretanto, a vingança azulina viria cerca de um ano depois. O enredo era muito parecido. Mais uma vez pelas semifinais, o Remo, que estava invicto, perdeu para a Tuna no Baenão, pelo jogo de volta, revertendo a vitória conquistada no estádio do Souza. Mas na nova disputa de pênaltis - e agora, diante da sua torcida - o Leão Azul venceu por 4 a 2, em mais uma noite histórica de Vinícius, se classificando para a final do Parazão. 

Vinícius, o herói da classificação diante da Tuna

Esses fatos reviveram a velha rivalidade, esfriada pelos anos de afastamento da Tuna das grandes competições. Por isso, resolvemos ceder um espaço para entender a importância do clássico sob a ótica de um tunante. O texto a seguir é de autoria de Ítalo Costa, historiador cruzmaltino:

"Escrever sobre o Clássico Re-Tu é uma tarefa interessante. Isso porque, estamos assistindo o ressurgimento de uma rivalidade que, ultimamente, vinha esfriando. De certo, as dificuldades futebolísticas que assombraram (e, em maior ou menor grau, ainda assombram) a vida da Tuna Luso foram as maiores incentivadoras desse afrouxamento na rivalidade mais antiga do esporte no Pará.  Foi em 2007 a última final de estadual disputada pelas duas equipes, e foi acirrada. 

Em 2021, o jogo empatado em 1x1 pela semifinal do Parazão, que levado aos pênaltis deu vitória à Cruz de Malta de Belém do Pará fez reascender a chama do clássico. Ali, a Tuna voltara a ser uma pedra no sapato dos Azulinos. Nas regatas, no futebol estadual e nacional, anos atrás, isso era comum. 

Nas décadas de 1940 e 1950, eram comuns alfinetas entre dirigentes, desportistas e torcedores dos clubes. Sobre isso, relembro um caso interessante: Vencendo o rival por 3x1, disputando a final do Campeonato Paraense de Futebol, a Tuna foi campeã do certame de 1951 (Por atrasos na competição, o jogo final ocorreu em 06/01/1952). Dois dias depois, em 08/01/1952, o jornal Folha Vespertina trouxe o seguinte aviso fúnebre: 'Clube do Remo. Morto a 6 de janeiro de 1952'.  

FOLHA VERSPERTINA. Anúncios Fúnebres. 1952 (Arquivo de Ítalo Costa)

O aviso relacionava-se diretamente com a derrota anterior que deu aos Lusos o troféu de 1951. A notícia incendiou a crônica esportiva, dirigentes e torcedores Azulinos. A delegação Tunante afirmou não ter relação com a publicação que gerou tamanho 'Zum-Zum-Zum', alegando ter partido da torcida tamanha alfinetada. Fato é: Clássico é Clássico, e esse, entre o Leão de Antônio Baena e a Águia do Souza, além de nos render uma grande história, promete voltar a ser um grande encontro".

Agradecemos ao Ítalo Costa por sempre contribuir com o nosso trabalho!

segunda-feira, 21 de março de 2022

A Origem Britânica do Azul do Remo

Royal Navy, a Marinha Real Britânica, se apropria do uso do azul-marinho 

Comumente o Clube do Remo é lembrado quando se discute e/ou elenca os clubes com os uniformes ou os escudos mais bonitos do país, por exemplo. Muito disso se deve ao uso de sua cor oficial, o azul-marinho, a variante mais escura do azul, considerada a cor preferida pelas pessoas em diversas pesquisas ao redor do mundo¹, por, dentre outros significados, representar harmonia e tranquilidade².

Tido como uma das cores primárias, junto ao vermelho e ao verde, o azul tem uma história curiosa. Criada há mais de cinco mil anos no antigo Egito, foi a primeira cor a ser sintetizada, a partir do pigmento de uma pedra semi-preciosa, o lápis-lazuli³, cujo nome em persa - "lâjvard" - deu origem ao nome "azul" em português⁴. 

Apesar disso, paradoxalmente, o azul não era reconhecido em diversas civilizações antigas⁵. Isso talvez ocorra por não existir muitos elementos "azulados" na natureza. Mesmo o céu e o oceano, frequentemente representados em azul, podem, dependendo da perspectiva apresentar outras cores. O poeta grego Homero, autor de "Ilíada" e "Odisséia" caracterizava o "mar cor de vinho". O Alcorão, antigas histórias chinesas, versões em hebraico da Bíblia, as sagas islandesas e escrituras hindu são outros exemplos de textos que não citavam a cor.

Portanto, o uso do azul pode ser tratada como marca do desenvolvimento de sociedades mais complexas, especialmente na questão de fabricação de objetos. Foi assim que se deu a criação das diferentes versões do azul, destacando-se, dentre elas, o azul-marinho também chamado de naval pelo seu emprego nos uniformes da Marinha Real Britânica ("Royal Navy") a partir de meados do século XVIII⁶.

Ilustração da Marinha Real Britância e seus uniformes em azul-marinho, em meados do século XIX

Assim, o azul-marinho costuma ser associado à tudo aquilo que envolva o mar/oceano. Nesse contexto entra os esportes náuticos e os "rowing clubs" ingleses. Como consequência, muito provavelmente essa tradição foi felizmente repassada ao Clube do Remo, que há mais de 100 anos carrega o azul mais forte da Amazônia.

REFERÊNCIAS:

1. COR azul na história e na arte. Hisour, s.d. Disponível em: <https://www.hisour.com/pt/blue-colour-in-history-and-art-26626/>. Acesso em: 21 de março de 2022.

2. SIGNIFICADO da cor azul. Significados, s.d. Disponível em: <https://www.significados.com.br/cor-azul/>. Acesso em: 21 de março de 2022.

3. A história da cor azul. Chá com Arte, 2019. Disponível em: <http://www.chacomarte.com.br/a-historia-da-cor-azul/>. Acesso em: 21 de março de 2022.

4. NEVES, Marco. As línguas do Afeganistão (e a origem da palavra "azul"). Sapo, 2021. Disponível em: <https://24.sapo.pt/opiniao/artigos/as-linguas-do-afeganistao-e-a-origem-da-palavra-azul>. Acesso em: 21 de março de 2022.

5. POR QUE as civilizações antigas não reconheciam a cor azul? BBC Brasil, 22 jan. 2016. Disponível em: <https://www.bbc.com/portuguese/noticias/2016/02/160221_civilizacoes_antigas_cor_azul_rb>. Acesso em: 21 de março de 2022.

6. COR azul na cultura. Hisour, s.d. Disponível em: <https://www.hisour.com/pt/blue-colour-in-culture-26630/amp/>. Acesso em: 21 de março de 2022.


sexta-feira, 11 de março de 2022

Tricampeão Paraense em 1995 (Invicto)

CLUBE DO REMO - TRICAMPEÃO PARAENSE 1993/94/95

A chegada dos 90 anos do Clube do Remo tinha que ser celebrada com um título histórico. Foi assim que aconteceu em 1995. Mas, para isso, o nonagenário Leão Azul precisou se reestruturar após o rebaixamento para a Série B na temporada anterior. Nesse intuito, a diretoria azulina, sob gestão de Raimundo Ribeiro, montou uma equipe forte, com uma defesa sólida e um ataque arrasador, que tinha em Luís Müller a sua principal referência. 

O goleador máximo, Luís Müller

Artilheiro do campeonato com 11 gols, Müller foi indicação do técnico Pepe. Este, porém, comandou o time azulino apenas nos dois primeiros jogos, vencendo-os com autoridade, mas indo embora devido a proposta tentadora do Guarani-SP. Fernando Oliveira assumiu interinamente na terceira rodada, ocasionando no primeiro dos dois empates da campanha.  Veio então Hélio dos Anjos, que ainda estava no começo da carreira, mas que se progetaria nacionalmente a partir daquele campeonato. 

Hélio dos Anjos chegou na semana do primeiro Re-Pa, mas soube implantar a sua filosofia e conduzir o time ao título invicto

A estreia do novo treinador foi um teste de fogo: um Re-Pa, vencido por 1 a 0, com um golaço de Luís Müller, no seu jeito característico - drible seco, entre as pernas do defensor bicolor. A partir daí foi um passeio. Excetuando um outro empate, na sexta rodada contra a Tuna, o Mais Querido ganhou todos os seus concorrentes, até conquistar o tricampeonato com uma rodada de antecedência ao vencer novamente o Paysandu por 1 a 0, no dia 11 de junho de 1995, mais uma vez com gol de Müller, dessa vez de pênalti. 

O rival foi inútil em sua tentativa de parar o Leão Azul

Torcedor faz a sua promessa após a obtenção do título

O Remo ainda encerraria a sua espetacular campanha com uma vitória sobre o Tiradentes, em Barcarena, por 2 a 1, confirmando o título invicto. Para se ter uma ideia da discrepância em relação aos outros adversários, o Leão somou 38 pontos, distante 14 pontos do segundo colocado (Paysandu). Há de se ressaltar também o sistema defensivo remista, que se só foi vazado por três vezes (um recorde na era profissional), mostrando o perfeito equilíbrio do elenco azulino, acarretando em mais um ano de hegemonia no estado.

Agnaldo, o "Leão do Leão"

Personagens do tri, Müller, Hélio e Agnaldo comemoram

CAMPANHA

1. Remo 4 x 0 Pedreira - 13/03/1995.

2. Remo 3 x 0 Tiradentes - 22/03/1995.

3. Remo 1 x 1 Bragantino - 25/03/1995.

4. Remo 1 x 0 Paysandu - 02/04/1995.

5. Remo 6 x 0 Pinheirense - 11/04/1995.

6. Remo 1 x 1 Tuna - 16/04/1995.

7. Remo 5 x 0 Sport Belém - 23/04/1995.

8. Remo 5 x 0 Pinheirense - 07/05/1995.

9. Remo 2 x 0 Tuna - 14/05/1995.

10. Remo 2 x 0 Pedreira - 21/05/1995.

11. Remo 4 x 0 Sport Belém - 24/05/1995.

12. Remo 1 x 0 Bragantino - 04/06/1995.

13. Remo 1 x 0 Paysandu - 11/06/1995.

14. Remo 2 x 1 Tiradentes - 18/06/1995.

NÚMEROS

• Jogos: 14.

• Vitórias: 12.

• Empates: 2.

• Derrotas: 0

• Gols pró: 38.

• Gols contra: 3.

• Saldo: 35.

Artilheiro: Luís Müller (11 gols).

O JOGO DO TÍTULO 

Remo 1 x 0 Paysandu.

Data: 11 de junho de 1995.

Local: Mangueirão. 

Árbitro: Mailson Abronheiro de Barros.

Público: 19.697.

Arrecadação: CR$ 101.800,00.

Remo: Clemer; Marcelo, Belterra, Flávio e Ednélson; Agnaldo, Cléberton, Dema e Júnior (Rogerinho Gameleira); Castor (Bebeto) e Luís Müller. Treinador: Hélio dos Anjos.

Paysandu: Alex; Marcos, Augusto, Marcelo Soares e Leandro; Hélio Maranhense, César, Mazinho e Chiquinho; Moura e Marcelo Fumaça. Treinador: Marinho Assunção. 

Gol: Luís Müller.

O jogo do título

quinta-feira, 10 de março de 2022

A Evolução do Escudo do Clube do Remo

Linha evolutiva do escudo do Clube do Remo (acervo Ítalo Costa)
 
O escudo é o símbolo máximo de um clube. É o principal elemento de identificação de uma marca e de vínculo com o seu público. Nesse aspecto, o Clube do Remo teve a expertise de apresentar um dos mais belos e respeitados escudos do futebol brasileiro por meio de um minuscioso trabalho de rebranding (renovação de marca).

A história do tradicional emblema remista é cercada de nuances que o tornam ainda impactante e significativo. Tudo isso será discutido a seguir, com base nos estudos de Ítalo Costa, professor de artes visuais, criador da atual versão do escudo do Remo.

O PRIMEIRO ESCUDO

A primeira descrição simbólica do Clube do Remo remete ao Estatuto Social de 1905, divulgado no Diário Oficial do Estado, número 4.049, de 13 de junho daquele ano. O seu 15° artigo trazia o seguinte: "A bandeira do Clube do Remo se comporá d'um retângulo azul marinho, tendo no centro uma âncora branca, em sentido oblíquo, circulada por trêze estrelas da mesma cor". Essa simbologia remete à origem náutica do clube.

Entretanto, à época do levantamento histórico feito por Ítalo, não existia - de fato - um desenho ilustrativo ou qualquer outro registro desse primeiro escudo. Naquele período, os registros fotográficos eram escassos - até haviam imagens dos primeiros atletas azulinos trajando uniformes com o escudo, mas a âncora estava disposta na vertical e não obliquamente, como descrito no estatuto. Devido a isso, ao ilustrar o distintivo, Ítalo optou por tombá-lo para a esquerda, pois era o sentido onde se localiza o coração. Anos após a conclusão da pesquisa, Costa conseguiu, por meio de outras fontes, uma imagem que ratificava o palpite que propunha.

Fotografia de 1906 mostrando alguns dos primeiros sócios do Remo. Ao centro e no canto inferior direito da imagem, observam-se homens trajando camisas com o primeiro escudo com a âncora realmente voltada para a esquerda (acervo Ítalo Costa)

Quanto às estrelas, não se tinha uma resposta sobre a razão da quantidade ser 13. À priori, a hipótese mais aceita era de uma possível relação com o misticismo do número 13, quanto à sorte ou a astrologia, já que naquele tempo as estrelas eram muito utilizadas para a localização nas rotas marítimas. Porém, posteriormente, uma descoberta poderia dar uma nova luz sobre a explicação das 13 estrelas.

Em 2020, Ítalo divulgou o resultado mais aprofundado de sua pesquisa. Nela, ele tomou conhecimento da bandeira do Yacht Club dos Estados Unidos, instituída pelo Congresso Americano em 1848. A insígnia em seu cantão muito se assemelha ao primeiro distintivo do Clube do Remo, inclusive com relação às estrelas. Nesse caso, elas fazem referência às 13 primeiras colônias norte-americanas.

Bandeira do Yacht Club dos EUA (acervo Ítalo Costa)

Seria então o primeiro escudo azulino fruto da influência norte-americana e não a britânica, como historicamente se associa ao Remo? Esta é uma pergunta que necessita de mais estudos para ser respondida.

TRANSFORMAÇÕES 

Após a Reorganização de 1911, o Remo renovou o seu escudo. Este apresentava um formato circular, muito semelhante à uma boia salva-vidas, trazendo "Grupo do Remo" - primeiro nome da agremiação - na parte superior e "1905" - data de fundação - na inferior. Ao centro, as letras "G" e "R" encontravam-se entrelaçadas, sendo transpassadas por um par de remos cruzados.

ESCUDO ALTERNATIVO - Durante essa época, o Remo também lançou mão de outro distintivo, menos comum. De características mais minimalistas, ele trazia as iniciais "G" e "R" isoladas e ladeando o par de remos cruzados.

Representação do escudo alternativo do Grupo do Remo (acervo Ítalo Costa)

Fotografia provavelmente datada entre 1911 e 1914 mostrando alguns atletas azulinos, cujos uniformes apresentam os três primeiros escudos do clube (acervo Ítalo Costa)

Em 1914 se deu oficialmente a troca do nome de Grupo para Clube do Remo. Consequentemente, isso também representou a mudança no distintivo azulino, que finalmente ganharia o seu formato tradicional. Este é oriundo da manutenção dos elementos dos escudos anteriores - como o entrelaçamento das iniciais e a conformação circular em sua parte inferior -, associado ao uso dos recortes arredondados simétricos superiores, herança da heráldica inglesa, a qual os fundadores tiveram contato.

MODERNIZAÇÃO

Desde então, o escudo remista apresentou algumas alterações em seu formato, no entanto, sem perder a sua essência. Mas diante disso, surgiu um problema: como não havia uma preocupação quanto à aplicação adequada do escudo, cada nova fornecedora de material esportivo do Clube do Remo fazia suas próprias alterações no emblema, tornando extremamente difícil a sua padronização. 

Foi pensando nisso que Ítalo, em parceria com o Departamento de Marketing do Remo, após extenuantes pesquisas, criou a versão atual do escudo remista, incorporando elementos que conferem um aspecto mais moderno ao tradicional símbolo azulino. Consoante a isso, foi, enfim, criado o Manual de Uso da Marca, que determina as diretrizes que orientam quanto ao seu uso correto.

O novo e atual escudo do Remo foi divulgado oficialmente em 10 de dezembro de 2013 nas mídias do clube. De início, parte da torcida "estranhou", mas com o passar do tempo, o escudo "caiu nas graças" do público, sendo cultuado pela sua beleza e simplicidade. Não foi à toa que, em 2017, o Remo figurou no Top 10 dos escudos mais bonitos do futebol brasileiro, em pesquisa conduzida pelo blog "Pombo Sem Asa", vinculado ao globoesporte.com, que levou em consideração a opinião imparcial de 100 estrangeiros. 

Recorte da matéria do caderno "Bola", do jornal "Diário do Pará", evidenciando o escudo do Clube do Remo entre os 10 mais bonitos do Brasil (acervo Ítalo Costa)



quarta-feira, 9 de março de 2022

Campeão Paraense em 1964

CLUBE DO REMO - CAMPEÃO PARAENSE EM 1964
Em pé: Ribeiro, François, Socó, Casemiro, Zé Luiz e Edilson;
Agachados: Neves, Walmir, Zequinha, Quibinha e Chaminha

Disposto a impedir o tetracampeonato do rival, o Clube do Remo iniciou o Campeonato Paraense de 1964 com um bom aproveitamento sob o comando técnico de Quiba, artilheiro e ídolo dos anos 50, com duas vitórias e um empate. Entretanto, um fato no meio do caminho mudaria tudo: a derrota para o Liberato de Castro, tido como o pior time do campeonato - que, inclusive, seria eliminado no "Torneio da Morte" (repescagem), posteriormente. 

Esse resultado provocou não apenas a saída de Quiba, como também a multa a alguns jogadores por "deficiência técnica". Eram eles François, Ailso, Ribeiro, Valmir, Todé e Amaury. Segundo a "Folha Vespertina", de 21 de setembro de 1964, esses jogadores teriam exagerado na "farra" durante a excursão que o Remo fizera para Maranhão e Piauí, dias antes, daí o motivo para o desempenho pífio diante do Liberato.

O goleiro François esteve envolvido na polêmica, mas se redimiu com belas defesas e foi peça chave no título

Mas não parou por aí. A derrota foi tão impactante que toda a diretoria azulina, presidida por Oswaldo Trindade, renunciou na data de 24 de setembro e o Leão passou a ser dirigido por uma Junta Governativa. Apenas em 30 de outubro que a nova diretoria foi eleita, sob a presidência de Rainero Maroja e a novidade foi a montagem do Departamento de Futebol Autônomo, nas pessoas de Jorge Age, João Guilherme Fiuza de Melo e Vinícius Bahury de Oliveira. 

Nesse meio tempo, o time remista foi comandado por Sávio Ferreira, que finalizou a campanha do primeiro turno. Mas para o seu lugar, o Mais Querido trouxe Antoninho, muito conhecido pelo seu trabalho nas categorias de base do Fluminense-RJ. Com ele no comando, o Remo foi imbatível e conquistou o segundo turno com 100% de aproveitamento, ganhando o direito de estar na final do campeonato contra a Tuna, campeã do primeiro turno.

Já era fevereiro de 1965 quando a decisão ocorreu.  Na primeira partida, dia 21, empate de 1 a 1 na Curuzu. A definição ficou para uma semana depois, no Baenão, que recebeu público recorde naquela edição. Mesmo os cruzmaltinos recebendo apoio dos bicolores, a torcida azulina foi imensa maioria. Muito superior, o Remo abriu logo 2 a 0, gols de Chaminha (artilheiro do campeonato) antes dos 20 minutos iniciais. A Tuna até diminuiu, mas nada que impedisse a festa remista.

A torcida azulina fez uma linda festa em público recorde no Baenão 

CAMPANHA

PRIMEIRO TURNO

1. Remo 3 x 0 Avante - 05/07/1964.

2. Remo 3 x 0 Combatentes - 26/07/1964.

3. Remo 1 x 1 Tuna - 08/08/1964.

4. Remo 1 x 2 Liberato de Castro - 20/09/1964.

5. Remo 1 x 1 Júlio César - 26/09/1964.

6. Remo 1 x 2 Paysansu - 04/10/1964.

SEGUNDO TURNO

7. Remo 2 x 1 Júlio César - 22/11/1964.

8. Remo 1 x 0 Tuna - 17/01/1965.

9. Remo 2 x 0 Paysandu - 30/01/1965.

10. Remo 2 x 1 Combatentes - 07/02/1965.

Obs.: Remo, campeão do segundo turno.

DECISÃO DO CAMPEONATO

11. Remo 1 x 1 Tuna - 21/02/1965.

12. Remo 2 x 1 Tuna - 28/02/1965.

NÚMEROS

• Jogos: 12.

• Vitórias: 7.

• Empates: 3.

• Derrotas: 2.

• Gols pró: 20.

• Gols contra: 10.

• Saldo: 10.

• Artilheiro: Chaminha (12 gols).

O JOGO DO TÍTULO 

Remo 2 x 1 Tuna.

Data: 28 de fevereiro de 1965.

Local: Baenão. 

Árbitro: Anacleto Petrobon (SP).

Arrecadação: CR$ 12.970,00.

Remo: François; Ribeiro e Socó; Edilson, Zé Luiz e Casemiro; Neves, Walmir, Zequinha, Quibinha e Chaminha. Treinador: Antoninho.

Tuna: Délcio; Haroldo e Prata; Almeida, Antenor e Moraes; Marcelo, Mário, Nascimento, Da Silva e Santiago. Treinador: Miguel Cecim.

Gols: Chaminha aos 7' e aos 18' do primeiro tempo; Nascimento aos 31' do segundo tempo.


segunda-feira, 7 de março de 2022

London Rowing Club: O "Pai" do Clube do Remo?


"- Batemos cabeça pensando que nome daríamos ao clube, ou melhor, ao Grupo. Foi quando Raul Engelhard, que estudara na Europa, sugeriu - Grupo do Remo.

- Não vai ficar muito bem - advertiu um. E logo outro concordou. Naquele tempo, remo lembrava logo catraia, e poderiam pensar que éramos um clube de catraieiros. Raul Engelhard explicou, porém, a sugestão. Lembrara-se de um clube europeu - o Rowing Club, Inglaterra. E assim nos convenceu. Ficou o nome Grupo do Remo".

Nesse trecho retirado do jornal "A Província do Pará", de 5 de fevereiro de 1955, José Henrique Danin explica como se deu a escolha do nome do Clube do Remo. Mas o que seria esse "Rowing Club" que inspirou Raul Engelhard? Quem ajuda a entender um pouco mais sobre isso é Adenirson Olivier, administrador da página Cultura de Remo no Instagram (@culturaderemo):

"A história de fundação do Clube do Remo diz que Raul Engelhard, um dos sete remadores responsáveis pela criação do Clube do Remo, sugeriu nome e cor parecido com um Rowing Club da Inglaterra, que havia conhecido durante seus anos de estudo na Europa.

Assim como no futebol onde o 'sufixo' 'Football Club' ou apenas 'FC' é atrelado na maioria dos times ingleses, o sufixo 'Rowing Club' também está presente nos times de remo. Portanto, não sabemos se o London Rowing Club foi exatamente o inspirador.

Porém, a tradicional equipe inglesa é conhecida por usar Azul Marinho, o que nos aproxima de este ser nosso 'pai'.

O LRC foi fundado em 1856 (49 anos antes do nosso CR), sendo o segundo clube não acadêmico mais antigo do país. Nasceu ocupando quartos de um pub na região de Putney, na grande Londres.


Com objetivos de participar de grandes regatas e também de iniciar um movimento de remo no Rio Tamisa, o clube está instalado até hoje a beira do famoso rio londrino.

O seu antigo escudo lembra muito os vários escudos que o Remo usou nas primeiras décadas.


Curiosidades:
- Os ex-pilotos de F1 Graham Hill (pai) e Damon Hill (filho) também eram remadores do LRC e seus capacetes de diferentes épocas, continham o mesmo desenho em homenagem ao clube.


- O LRC, junto com outros seis clubes de remo*, fundou em 1909 um clube social  chamado Remenham Club, em que o escudo também utiliza o CR, lembrando o nosso Clube do Remo de 1905".


Adaptado de @culturaderemo.

Nota: além do LRC, os clubes de remo que compõem o Remenham Club são Vesta RC, Thales RC, Twickenham RC, Kingston RC, Molesey BC e Staines BC.


sábado, 5 de março de 2022

Bicampeão Paraense em 1978 (Invicto)

CLUBE DO REMO - BICAMPEÃO PARAENSE 1977/78
Em pé: China, Dico, Marajó, Dutra, Aderson e Clóvis;
Agachados: Paulinho, Zezinho Capixaba, Mesquita, Bira e Júlio César. 

O Campeonato Paraense de 1978 tinha um ingrediente a mais na disputa: o estádio estadual Alacid Nunes, o Mangueirão, inaugurado oficialmente em março daquele ano. Antes, o Remo já havia cravado seu nome como o primeiro time a jogar e a inaugurar as duas traves do estádio. Mas agora o que estava em jogo era quem seria o primeiro campeão da história do Mangueirão.

O Leão Azul vinha com a sua base da belíssima campanha no Brasileiro anterior, quando quase alcançou as semifinais da competição e defendia o título conquistado em 1977. Isso refletiu na grande campanha azulina no primeiro turno, não perdendo uma partida sequer. Porém, os empates contra Sport Belém, Paysandu e Tuna, acabaram favorecendo os bicolores, que conquistaram o turno por terem feito mais pontos.

No segundo turno, entretanto, o Remo foi avassalador. Amealhou seis vitórias e apenas um empate, conquistando o turno ao vencer a Tuna, na decisão, por 1 a 0, com Bira fazendo o seu 25° gol e consolidando a artilharia do campeonato. Graças a esse resultado, o Mais Querido obteve o direito de disputar a final do campeonato.

Zagueiro Marajó foi o responsável por encaminhar o título remista com um golaço 

No primeiro jogo, já no dia 16 de dezembro de 1978, Remo e Paysandu fizeram um embate morno e não saíram do 0 a 0. No segundo jogo, dois dias depois, o Leão deixou a apatia de lado e começou arrasador, abrindo 2 a 0 com 17 minutos de jogo. O primeiro gol saiu aos quatro, com Marajó marcando um golaço, enganando toda a defesa bicolor. Os 2 a 0 surgiram em cobrança de pênalti assinalada por Júlio César.

Flagrante do pênalti convertido por Júlio César, que sacramentou o bi

Quando se esperava um massacre azulino, o Remo puxou o freio de mão e apenas administrou o placar. No segundo tempo, o Paysandu pressionou e diminuiu com Miguelito. Mas o esforço foi insuficiente, o Filho da Glória e do Triunfo venceu por 2 a 1 diante de 22.067 torcedores e tornou-se o primeiro campeão da história do Mangueirão. 

A primeira festa de campeão da história do Mangueirão foi pintada de azul-marinho

Curiosamente, por força do regulamento, uma terceira partida teve que ser disputada, apenas em 4 de março de 1979. Já com o título garantido, o Rei da Amazônia empatou em 0 a 0, resultado que serviu para sacramentar a conquista invicta e o tabu de mais de dois anos sem derrotas em Re-Pa's.

A CAMPANHA DO CAMPEÃO

PRIMEIRO TURNO

1. Remo 2 x 0 Tiradentes - 16/09/1978.

2. Remo 1 x 1 Sport Belém - 27/09/1978.

3. Remo 1 x 1 Paysandu - 07/10/1978.

4. Remo 10 x 0 Liberato de Castro - 15/10/1978.

5. Remo 1 x 1 Tuna - 22/10/1978.

6. Remo 6 x 0 Associação Recreativa Abaetetubense (ARA) - 25/10/1978.

SEGUNDO TURNO

7. Remo 5 x 0 Liberato de Castro - 08/11/1978.

8. Remo 2 x 1 Tiradentes - 11/11/1978.

9. Remo 10 x 0 ARA - 18/11/1978.

10. Remo 4 x 1 Sport Belém - 26/11/1978.

11. Remo 1 x 1 Tuna - 03/12/1978.

12. Remo 1 x 0 Paysandu - 10/12/1978.

DECISÃO DO SEGUNDO TURNO

13. Remo 1 x 0 Tuna - 13/12/1978.

Obs.: Remo campeão do segundo turno.

DECISÃO DO CAMPEONATO

14. Remo 0 x 0 Paysandu - 16/12/1978.

15. Remo 2 x 1 Paysandu - 18/12/1978.

Obs.: Remo campeão paraense invicto de 1978.

16. Remo 0 x 0 Paysandu - 04/03/1979.

NÚMEROS

• Jogos: 16.

• Vitórias: 10.

• Empates: 6.

• Derrotas: 0.

• Gols pró: 50.

• Gols contra: 7.

• Saldo: 43.

• Artilheiro: Bira (25 gols).

O JOGO DO TÍTULO

Remo 2 x 1 Paysandu

Data: 18 de dezembro de 1978.

Local: Mangueirão. 

Árbitro: Mário Comessa (COL/FIFA).

Público: 22.067 pessoas.

Arrecadação: CR$ 775.060,00.

Remo: Dico; China (Bebeto), Dutra, Marajó e Clóvis; Aderson e Mesquita; Zezinho Capixaba, Paulinho (Tuíca), Bira e Júlio César. Treinador: Joubert Meira.

Paysandu: Reginaldo; Aldo, Lineu, Aloisio e Marcos; Francisco e Bacuri; Coca (Vilfredo), Carlinhos Maracanã (Lupercínio), Célio e Miguelito. Treinador: Décio Leal.

Gols: Marajó aos 4 e Júlio César aos 17' do 1T; Miguelito aos 7' do 2T.

Os gols do título