A edição de 1974 do Campeonato Paraense foi, talvez, a mais disputada de todos os tempos, muito em função do seu excêntrico regulamento, dividido em três turnos. Acontece que o desenrolar dessa fórmula possibilitava uma condição ainda mais única e especial: o Supercampeonato, disputado entre os vencedores de cada turno para, enfim, se definir o campeão paraense. E foi o que aconteceu.
O primeiro turno foi vencido pelo Paysandu, enquanto que o Remo levou o segundo. Já o terceiro teve como ganhadora a Tuna, em uma decisão emocionante contra o Leão, que merece um destaque a mais. Depois de empatarem em 1 a 1 no tempo regulamentar e em 2 a 2 na prorrogação, a Lusa levou o título apenas na segunda série de penalidades, ganhando por 10 a 9 - Marinho foi quem perdeu para o lado azulino -, naquele que, possivelmente, foi o jogo mais longo da história do Parazão.
Mas aqui cabe uma ressalva. Mesmo com esse revés nas penalidades, o Remo não perdeu a invencibilidade na competição. Afinal, a disputa de pênaltis não entra nas estatísticas dos times e jogadores, por ser um procedimento que não faz parte, de fato, da partida, prevalecendo o resultado final (empate).
Com o Supercampeonato definido, o Trio de Ferro inicia a briga pelo título máximo do futebol paraense. O Remo assistiu de camarote o empate de 0 a 0 entre Paysandu e Tuna no dia 11 de dezembro de 1974, que abriu o Super. Diante desse resultado, uma vitória sobre os bicolores no dia 15, no Baenão, colocaria o Leão em vantagem na disputa.
Naquele Re-Pa acabou prevalecendo a lógica. O Remo venceu por 2 a 0, com gols de Alcino aos 33' do primeiro tempo e Mesquita aos 7' do segundo. A emblemática vitória não apenas sepultou as chances dos bicolores, como também marcou o melancólico fim da "geração do Quarenta" do rival, que se sobressaía desde a segunda metade dos anos 50. O invencível Leão Azul, sob os comandos de Paulinho de Almeida, representava os novos tempos no futebol paraense e partia em busca de mais de mais um título invicto.
Em um cenário muito semelhante ao ano anterior, após eliminar o maior rival, o Remo precisava apenas de um empate no dia 18 de dezembro, contra a qualificada Tuna de Miguel Cecim para sagrar-se campeão. Mas, diferentemente, a vitória veio com um gol memorável de Alcino, imortalizado pelas lentes do repórter Braz da Rocha ("A Província do Pará") e relembrado nesse relato emocionante do apaixonado torcedor azulino Rocildo Oliveira:
"35 minutos do segundo tempo, a experiente equipe do professor Paulinho de Almeida arma o contra ataque. A bola chega aos pés do veloz e habilidoso ponteiro-esquerdo Neves que levanta a cabeça e lança o balão de couro para o interior da grande área. Por um segundo o torcedor emudece, com o seu olhar atento segue a trajetória da bola, que muito antes de tocar o chão é alcançada pela testada fulminante, do gigante azulino Alcino. O silêncio sepulcral da lugar a uma explosão de risos e choros. O grito de gol ecoava por toda Belém, por todo Estado do Pará...".
Esse foi o 12° de Alcino, que tornou-se artilheiro da competição e fez explodir o Baenão completamente lotado após a conquista de mais um campeonato. Em outra campanha sensacional, o Clube do Remo venceu 12 jogos e empatou seis, marcando um total de 28 gols e sofrendo apenas cinco. Números espetaculares que consagraram o Filho da Glória e do Triunfo como o superbicampeão paraense de 1974.
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