segunda-feira, 5 de fevereiro de 2024

A Fundação do Remo, por José Henrique Danin, o Fundador Número Um

José Henrique Danin em 1955. A Província do Pará, 05/02/1955

Entrevista com José Henrique Danin, um dos fundadores do Remo, publicada pela A Província do Pará em 05/02/1955:

Quando o Clube do Remo encerra o primeiro meio século de sua existência, não se pode deixar de levar o pensamento àqueles que o idealizaram, aqueles que primeiro viveram os seus anseios, as suas esperanças, as suas primeiras vitórias.

Quem teriam sido êles?

Como nasceu a idéia de fundação do Remo? E por que êsse nome? De quem a sugestão de assim batizá-lo?

Tudo isso é cousa que a geração moça do grande clube de Periçá desejaria conhecer nos seus mínimos detalhes.

É verdade que, por essas colunas, já Leonardo Ribas, pseudônimo que mal esconde figura veterana e querida do esporte da nossa terra, bem de perto ligado ao velho grêmio azulino, vem contando, desde dias atrás, muito da vida do Remo, nos primeiros dias.

Mas, a reportagem decidiu procurar mais alguma cousa.

O FUNDADOR NÚMERO UM

E pusemo-nos a pensar a quem ir procurar. E exatamente o número um dos fundadores: José Henrique Danin. Não poderíamos encontrar ninguém melhor e mais autorizado para falar sôbre os primeiros dias do Clube do Remo. Um telefonema ao coronel Moura Carvalho, figura ilustre e querida do nosso Exército, ex-governador do Estado e recém-eleito deputado à Assembléia Legislativa paraense, e acertamos o encontro. José Henrique Danin é sogro do coronel Moura Carvalho e daí termos procurado a intercessão deste para a entrevista. Já não sai de casa, há uns pares de anos, o fundador número um do Remo, a quem os anos não quebraram o entusiasmo de espírito, nem fizeram arrefecer a vibração pelo que foi obra sua, inspiração sua e de uns poucos companheiros, nos dias distantes da mocidade, há cinquenta anos atrás.

O NOME, INSPIRAÇÃO DE UM CLUBE EUROPEU

Falando pausadamente como quem em câmera lenta, estivesse a repassar no cérebro o filme das rememorações mais ternas, – o velho Danin, – permita-nos o fundador número um que o tratemos assim, nesta reportagem começou a dizer: 

— Éramos sete, no primeiro instante. Uma dissidência do Esporte Clube do Pará, a que então pertencíamos, levou-nos a pensar na fundação de um outro clube. Esses sete, eram Vitor Engelhard, Raul Engelhard, Vasco Abreu, Eugênio Soares, pai, Narciso Borges, nós e um outro que, no momento, não tenho bem certeza, se era Jean Marechal ou Eduardo Cruz, pois ambos, logo depois, estava conosco.

Fundamos então, o Grupo do Remo.

— Mas, por que êsse nome?

— Vou contar. Balamos a cabeça pensando que nome daríamos ao clube, ou melhor, ao Grupo. Foi quando Raul Engelhard, que estudará na Europa, sugeriu Grupo do Remo.

— Não vai ficar muito bem – advertiu um. E logo outro concordou. Naquele tempo, remo lembrava logo catraia. E poderiam pensar que éramos um clube de catraeiros.

Raul Engelhard explicou, porém, a sugestão. Lembrara-se um clube europeu, – o Rowing Club, Inglaterra. E assim nos convenceu. Ficou o nome: – Grupo do Remo.

— A cisão, – continuou José Henrique Danin, – no Esporte Clube se deu por causa de uma regata, na hora de formar as guarnições, e por causa, exatamente, da guarnição em que eu formava com os dois Engelhard e Eduardo Cruz, patroados por um filho de Cruz, alcançamos grandes vitórias. Nosso barco era a "Baleeira 6". Depois é que vieram os out-riggers. E o primeiro que o Remo possuiu foi um a dois que ofertei ao clube ao qual foi dado o nome de "Marleta". Tivemos também, a essa altura, nossa primeira iole a quatro, que também ofertei.

MEDALHA "A PROVÍNCIA DO PARÁ"

O fundador número um do Remo manda abrir um cofre e tira de dentro uma grande medalha de ouro. E disse: 

– Olhe aqui. Naquele tempo, conquistei essa medalha, numa prova que teve o nome de "A PROVÍNCIA DO PARÁ", como homenagem a êsse grande jornal, então na primeira fase de sua vida, nos tempos do velho Lemos. Aqui está gravado, na medalha, nas mesmas letras góticas, o nome do jornal.

O Grupo do Remo foi aumentando, tomando foros de um verdadeiro clube e se fez, assim, o primeiro Estatuto, ganhando todos que o assinaram o título de fundadores. Lá estão êsses nomes na ordem: José Henrique Danin, Raul Engelhard, Roberto de Figueiredo, Antônio de La-Rocque Andrade, Victor Engelhard, Raimundo Oliveira da Paz, Antônio Borges, Arnaldo Rebelo de Andrade, Manuel C. Pereira de Sousa, Ernestino Almeida, Alfredo Vale, José D. Gomes de Castro, José Maria Pinheiro, Luiz Rebelo de Andrade, Manuel José Tavares, Basílio Pais, Palmério Teixeira Pinto, Eurico Pacheco Borges, Narciso Borges e dr. Heliodoro Brito.

Eugênio Soares, Vasco Abreu, Cruz, Marechal, nesse instante estavam ausentes e, por isso, não assinaram, o Estatuto. Mas, são fundadores igualmente, ou melhor, foram fundadores.

FUTEBOL EM BATISTA CAMPOS

A primeira reunião se efetuou em uma casa no velho Largo da Pólvora, que o fundador número um já nem recorda onde era, se é que ela não desapareceu, mesmo. E conta, então, que o futebol começou com uns chutes na praça Batista Campos, para daí sair para o Largo de São Braz, com os primeiros jogos oficiais e os primeiros campeonatos.

A natação se fazia, como o water-polo, na Guajará, onde, também, Augusto Lobato dava os primeiros passos. No water-polo, lá estava o Lobato, o alemão Walman, Macambira, Bibi Bolinha e uns poucos mais.

E o velho Danin segue contando as glórias do Remo. A transformação em Clube do Remo, a velha garage do Largo da Sé, a reorganização, um período de desalento com os troféus todos sendo entregues a ele, para guardá-los. E, depois, a instalação na praça da República, a conquista da sede do Esporte Clube, lá em Nazaré, onde está ainda hoje, para concluir: 

– Nunca deixei de acompanhar um só instante a vida do Remo. E quando não mais saí, aqui o meu genro, o coronel Moura, me traz as notícias do que vai ocorrendo por lá. Sempre fiz questão que ele estivesse bem perto do Remo e de sua atividade, para que, assim, eu estivesse perto, também. E, hoje, quando se chega a este cincoentenário, posso dizer que vejo com orgulho e uma alegria que não tem limites a grandeza do nosso clube. Creio nos que tomaram a seus ombros o movimento renovador vitorioso nas últimas eleições. E creio que o Remo crescerá, mais, muito mais. Isso mesmo vou mandar dizer aos remistas de hoje, em mensagem que lhes vou enviar.

Lágrimas escorriam dos olhos do velho esportista, glória dos maiores do esporte paraense. Estava finda a entrevista.

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