segunda-feira, 11 de abril de 2022

Campeão Paraense Feminino em 1983

A história do futebol feminino no Brasil é marcada por muita luta e superação. Desde a sua proibição durante a Era Vargas até a sua regulamentação como esporte profissional em 11 de abril de 1983, muita coisa aconteceu, mas o caminho ainda é longo para que a categoria seja tenha o seu real valor reconhecido. No meio desse processo está o Clube do Remo, que destaca-se como um dos pioneiros a fomentar a prática do futebol feminino no Pará.

Quem explica toda essa história é Joaquim Rangel, administrador das páginas "Azulinos da Cidade" e "Jornais e História" nas redes sociais (Instagram e Facebook), que dedicou seu tempo a estudar sobre a origem do futebol feminino azulino e compartilha com o blog a sua pesquisa:

"Falar de futebol feminino no Brasil antes de tudo é falar de política. Afinal, o futebol feminino tem uma particularidade em relação ao futebol masculino, pois as mulheres até o final da década de 70 eram proibidas por lei a praticarem o esporte mais popular do país. Apenas em 1979 o decreto que restringia a prática futebolistica as mulheres foi revogado, mas somente no dia 11 de abril de 1983 o futebol feminino foi regulamentado por lei, se tornando então um esporte profissional do Brasil.

Dentro deste contexto, a Federação Paraense de Futebol organiza no final de 1983 pela primeira vez em sua história o Campeonato Paraense de Futebol Feminino, que contaria com a presença de Remo, Paysandu, Tuna e Yamada na disputa pelo título. 

Como era tradição na época, o Campeonato contava com um 'esquenta' conhecido como Torneio Início, que costumava ser realizado em um único dia, com partidas amistosas onde tudo valia ponto, inclusive escanteios, chutes a gol, número de faltas e cartões eram critérios de desempate; vale destacar que o torneio terminou com o Clube do Remo se sagrando campeão. No entanto, neste torneio início em particular foi realizado um concurso de beleza entre as atletas para eleger qual time tinha a atleta mais bonita, reforçando que por mais que as mulheres tenham conquistado o direito de jogar futebol profissionalmente a luta ainda seria grande para que seu trabalho fosse de fato reconhecido pelo desempenho dentro de campo e não pelo fetichismo social ao entorno do corpo feminino.

O Campeonato Paraense oficialmente começou em outubro de 1983, tendo o Clube do Remo como o campeão de seu primeiro turno e conquistando assim uma vaga na final. Já no segundo turno Paysandu, Tuna e Yamada disputaram com ainda mais raça tentando impedir que as Azulinas levassem a taça direto. Na última rodada do segundo turno Remo, Tuna e Paysandu brigavam na ponta da tabela, as Cruzmaltinas precisavam vencer da  Yamada e torcer para o Remo vencer do Paysandu, assim sendo a final do segundo turno seria entre Remo e Tuna. Entretanto, a Yamada surpreendeu e venceu as Cruzmaltinas, e no jogo realizado na Curuzu as bicolores superaram as Azulinas por 2x1 e passaram para a final. Uma curiosidade nessa partida é que a goleira do Remo foi acusada de 'entregar' o gol da vitória bicolor, pois um clássico na final do segundo turno seria mais atrativo e traria mais visibilidade. 

Como o Remo fez a melhor campanha, teve a vantagem de decidir o título em casa. No entanto, a Federação Paraense teve a "brilhante" ideia de marcar a final para o dia 17 de dezembro de 1983, mesmo dia em que Remo e Tuna se enfrentavam no Mangueirão pela final do Campeonato Masculino. O público foi fraquíssimo na final feminina mesmo com os portões abertos para a torcida sem cobrar ingresso, o foco naquele dia seria mesmo no Mangueirão, quando sem saber a Tuna conquistaria seu último título de Campeão Paraense até então.

Mas no Baenão as atletas de Remo e Paysandu nada tinham com isso, entraram em campo focadas, pois em caso de vitória do Paysandu o título do segundo turno lhe daria direito de jogar mais uma partida para decidir quem ficaria com a taça do campeonato, e em caso de vitória das Leoas o título Paraense estaria certo, pois já haviam vencido o primeiro turno. Dentro de campo a superioridade azulina se confirmou quando Cebolinha marcou o gol do título aos 14 minutos do primeiro tempo. De lá pra frente o jogo ficou aberto e a goleira Azulina chamada Shirley com certeza foi a atleta que mais trabalhou naquela partida. Ao final do jogo em uma entrevista ela declarou que havia provado de uma vez por todas que as acusações de ter entregado o jogo na Curuzu eram falsas, chorou e foi consolada por suas colegas e pela torcida que invadiu o campo para comemorar com as suas campeãs. Shirley acabou se tornando ao lado de Cebolinha uma das heroínas do título de 1983. 

O dia 17 de dezembro de 1983 poderia ser um dia fatídico para o Remo, pois a final perdida para a Tuna dói até hoje dentre os Remistas mais antigos, mas naquele dia o futebol feminino Remista provou seu valor e colocou na galeria de troféus do Remo o primeiro título estadual da história. Está escrito, ninguém nunca vai apagar, nós somos as eternas campeões de 1983!".

As pioneiras campeãs paraenses (arquivo Joaquim Rangel)

FICHA TÉCNICA DA FINAL

17/12/1983.
REMO 1 X 0 PAYSANDU.
Paraense 1983 – Final.
Estádio Evandro Almeida/Baenão.
Árbitro: Francisco dos Reis Padilha.
Remo: Shirley; Maria, Odirene, Mira e Paula (Amélia); Sandra, Angela e Adília; Bernardeth, Cebolinha e Pelezinha.
Paysandu: Ana Nery; Helena, Lúcia, Margareth e Regina; Aparecida, Márcia Julia, Erika; Camila (Niza), Márcia Pedrosa e Wilma (Marcinha).
Gol: Cebolinha (14'/1T).
Cartões Amarelos: Pelezinha; Margareth.

Pesquisa e texto: Joaquim Rangel.

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