CLUBE DO REMO – CAMPEÃO BRASILEIRO DA SÉRIE C 2005
Todo clube espera um dia chegar aos 100 anos de vida. A concretização de um marco tão importante quanto este é a prova de que a instituição superou todas as dificuldades que lhe foram impostas durante a sua existência e permaneceu ativa. Isso é particularmente singular nos clubes de massa. Nada mais justo então do que comemorar o centenário de uma forma especial, que orgulha os seus torcedores. Porém, este não parecia ser o caso do Clube do Remo em 2005.
Os 100 anos do Leão casou justamente com o pior momento de sua história até então. Rebaixado na Série B do ano anterior, o Remo disputaria pela primeira vez a Série C do Campeonato Brasileiro, a última divisão nacional na época. Para se ter uma ideia, o Remo foi o último dos grandes paraenses a estar na Terceira Divisão – o Paysandu já havia disputado em 1990 e a Tuna em 1992.
Para piorar, 2005 não iniciou da melhor forma para o Remo, que amargurou o vice-campeonato estadual para o maior rival e a sofrida eliminação diante do Figueirense-SC na Copa do Brasil. Somado a isso, uma severa crise financeira fazia com que o prognóstico azulino não fosse dos melhores. Antes de disputar a Série C, o Remo participou de amistosos pelo interior para arrecadar dinheiro.
O início da dura jornada rumo à glória! Pela primeira vez, o Clube de Periçá estreava na Série C e foi fora de casa, no estádio Canarinho (RR), contra o modesto São Raimundo local. O empate de 2 a 2 dava conta de que o caminho pela frente seria difícil, mas recompensador – Foto: Reprodução.
Naquele ano, a Terceira Divisão contou com 63 times, inicialmente divididos em grupos regionalizados. O Mais Querido ficou no grupo 3 juntamente com Abaeté-PA, São José-AP e São Raimundo-RR. Foi contra este último que o Leão estreou no campeonato, no dia 31/07, conseguindo um empate de 2 a 2 fora de casa. Apesar do resultado razoável, o técnico Walter Lima, que desde a intertemporada teve que lidar com os recorrentes atrasos de salários e descontentamento do elenco, resolveu entregar o cargo.
Nesse contexto, o Remo contratou o experiente técnico Roberval Davino, que já havia sido campeão da Série C em 1997 pelo Vila Nova-GO. Apesar de enfrentar os mesmos problemas que o seu antecessor, Davino contou com o apoio da diretoria, mas sobretudo da torcida azulina. A grande prova disso foi no primeiro jogo em Belém, quando mais de 28 mil pessoas foram ao Mangueirão para empurrar o Leão à vitória de 2 a 1 sobre o bom time do Abaeté, na data de 02/08.
Roberval Davino (técnico) e Raphael Levy (presidente) seguraram as rédeas e comandaram o Clube do Remo durante a campanha – Foto: Fernando Araújo.
Essa prova de amor surpreendeu o novo comandante remista, sendo fundamental para fazer com que um time operário, sem muitos destaques individuais, se tornasse competitivo. Assim se deu a tônica do Remo na Série C. Valendo-se do fator casa como diferencial graças às lotações do Olímpico do Pará, o Leão terminou a primeira fase de forma invicta, com quatro vitórias e dois empates.
A REMONTADA AZULINA! No primeiro mata-mata da Série C, o Clube de Periçá venceu o Tocantinópolis-TO por 4 a 1 no Mangueirão e conseguiu uma remontada inesquecível, revertendo uma desvantagem de 2 a 0 na ida – Foto: Reprodução.
As fases seguintes foram decididas em três mata-matas. No primeiro ocorreu um dos jogos mais memoráveis da campanha: após perder na ida para o desconhecido Tocantinópolis-TO por 2 a 0, o Remo deu a volta por cima com um emocionante 4 a 1, no dia 11/09. Em seguida, o Leão teve pela frente mais uma vez o valoroso Abaeté, eliminando-o com uma vitória de 3 a 2 e um empate de 1 a 1, sendo os dois jogos realizados no Mangueirão. Por fim, o Mais Querido passou pelo Nacional-AM, vencendo-o por 2 a 0 em Manaus (AM), na ida, permitindo a classificação mesmo com a surpreendente derrota de 1 a 0 na volta, em casa.
No último mata-mata, diante de um público de 45.841 torcedores, o Remo acabou derrotado para o Nacional-AM por 1 a 0, mas como havia ganho em Manaus por 2 a 0, conseguiu a sua classificação para o quadrangular final – Foto: Reprodução
Chega então o quadrangular decisivo. Remo, Novo Hamburgo-RS, Ipatinga-MG e América-RN lutariam pelo acesso. A estreia do Leão nessa fase final ocorreu em 22/10, 1 a 0 em cima dos gaúchos, no Mangueirão. Porém, duas derrotas fora, para mineiros e potiguares, ambas por 1 a 0, complicaram a situação, colocando o Leão na lanterna do grupo. No dia 06/11, o Remo recuperou-se ao vencer o América por 2 a 0, em casa. Mas o empate com o Ipatinga por 2 a 2, dia 13, em Belém – após estar vencendo por 2 a 0 – quase pôs tudo a perder. Até aqui, a classificação do quadrangular era a seguinte: América, 9 pontos; Ipatinga, 8; Remo, 7; Novo Hamburgo, 4.
Na rodada derradeira, o Leão viajou até o Rio Grande do Sul para enfrentar o já eliminado Novo Hamburgo, na data de 20/11. Precisando de uma vitória, o time contou com a maior torcida do Norte, teria a sua maior decisão longe dela. Porém, mesmo distante fisicamente, a imensa Nação Azul se fazia presente espiritualmente e estava representada por alguns poucos guerreiros azulinos no estádio Santa Rosa. E todos explodiram de alegria quando Capitão aos 3' e Maurílio aos 29' do segundo tempo decretaram a vitória azulina por 2 a 1 – Luiz Gustavo diminuiu para o Novo Hamburgo. Simultaneamente no Ipatingão (MG), um empate de 0 a 0 decretou: Remo, campeão brasileiro da Série C de 2005!
Heróis nacionais! Maurílio e Capitão, os autores dos gols da vitória de 2 a 1 sobre o Novo Hamburgo-RS, fora de casa, que sacramentou o título do Campeonato Brasileiro Série C – Foto: Carlos Silva/O Liberal
A tão suada e batalhada conquista veio no saldo de gols: com 10 pontos cada, o Remo superou o América por uma bola (2 a 1). A festa que começou no Sul, atravessou o Brasil e foi potencializada em todo o Norte do país. Foi a consagração da torcida azulina, agora eternizada por todos como o Fenômeno Azul, recordista nacional de público com 30.869 pagantes por jogo – feito que só seria igualado por Bahia e Santa Cruz-PE posteriormente – relembrando a todos o porquê de o Clube do Remo ser eternamente o Mais Querido da Amazônia!
Os campeões brasileiros nos braços do Fenômeno Azul – Foto: O Liberal
No seu retorno à capital paraense, os campeões foram recepcionados por uma multidão de azulinos, que tomou conta dos arredores do Aeroporto Internacional de Belém e seguiram em carreata no caminhão do Corpo de Bombeiros até à avenida Doca de Souza Franco. O troféu do título só chegou à posse do Clube do Remo no dia 05/12/2005, no evento Prêmio Craque do Brasileirão, promovido pela Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e Rede Globo, no Centro do Rio (RJ).
A CAMPANHA
1ª Fase
31/07/2005.
SÃO RAIMUNDO-RR 2 X 2 REMO.
Estádio Flamarion Vasconcelos/Canarinho – Boa Vista (RR).
Gols: Branco (40’/1T e 12’/2T); Jair (44’/1T) e Landu (45’/1T).
07/08/2005.
REMO 2 X 1 ABAETÉ-PA.
Estádio Olímpico do Pará Jornalista Edgar Proença/Mangueirão.
Gols: Emerson (7’/2T e 25’/2T); Rogério (6’/1T).
14/08/2005.
REMO 3 X 2 SÃO JOSÉ-AP.
Estádio Olímpico do Pará Jornalista Edgar Proença/Mangueirão.
Gols: Emerson (16’/1T), Carabina (39’/1T), Douglas Richard (15’/2T); Jean Marabaixo (30’/1T) e Marcelo Brás (34’/2T).
21/08/2005.
SÃO JOSÉ-AP 1 X 1 REMO.
Estádio Milton Corrêa/Zerão – Macapá (AP).
Gols: Marclésio (33’/1T); Emerson (45’/1T).
28/08/2005.
ABAETÉ-PA 1 X 2 REMO.
Estádio Olímpico do Pará Jornalista Edgar Proença/Mangueirão.
Gols: Irituia (5’/2T); Douglas Richard (27’/1T e 49’/2T).
03/08/2005.
REMO 4 X 0 SÃO RAIMUNDO-RR.
Estádio Olímpico do Pará Jornalista Edgar Proença/Mangueirão.
Gols: Douglas Richard (5’/1T), Geraldo (34’/1T), Emerson (41’/2T) e Osny (47’/2T).
2ª Fase
11/09/2005.
TOCANTINÓPOLIS-TO 2 X 0 REMO.
Estádio João Ribeiro/Ribeirão – Tocantinópolis (TO).
Gols: Moacri (5’/2T) e Ferinha (41’/2T).
18/09/2005.
REMO 4 X 1 TOCANTINÓPOLIS-TO.
Estádio Olímpico do Pará Jornalista Edgar Proença/Mangueirão.
Gols: Capitão (8’/1T), Emerson (15’/1T), Magrão (33’/2T) e Osny (39’/2T); Lairson (21’/2T).
2ª Fase
25/09/2005.
REMO 1 X 1 ABAETÉ-PA.
Estádio Olímpico do Pará Jornalista Edgar Proença/Mangueirão.
Gols: Marquinhos (24’/1T); Gauchinho (35’/1T).
O Abaeté foi um adversário ferrenho durante todo o ano de 2005 – Foto: Marcelo Seabra/O Liberal.
02/10/2005.
ABAETÉ-PA 2 X 3 REMO.
Estádio Olímpico do Pará Jornalista Edgar Proença/Mangueirão.
Gols: Souza (23’/1T) e Rogério (22’/2T); Capitão (3’/1T), Maurílio (4’/2T) e Marquinhos (30’/2T).
3ª Fase
08/10/2005.
NACIONAL-AM 0 X 2 REMO.
Campeonato Brasileiro Série C 2005.
Estádio Vivaldo Lima/Vivaldão – Manaus (AM).
Gols: Emerson (32’/1T) e Maurílio (40’/2T).
Na ida do último mata-mata da fase classificatória, o Remo obteve um ótimo resultado ao vencer o Nacional-AM, por 2 a 0, no antigo Vivaldão (AM). Foto: Reprodução
16/10/2005.
REMO 0 X 1 NACIONAL-AM.
Estádio Olímpico do Pará Jornalista Edgar Proença/Mangueirão.
Gol: Márcio Griggio (22’/2T).
Fase Final
22/10/2005.
REMO 1 X 0 NOVO HAMBURGO-RS.
Estádio Olímpico do Pará Jornalista Edgar Proença/Mangueirão.
Gol: Marquinhos (44’/1T).
29/10/2005.
IPATINGA-MG 1 X 0 REMO.
Campeonato Brasileiro Série C 2005.
Estádio Estádio Municipal Epaminondas Mendes Brito/Ipatingão – Ipatinga (MG).
Gol: William (41’/1T).
02/11/2005.
AMÉRICA-RN 1 X 0 REMO.
Estádio João Machado/Machadão – Natal (RN).
Gol: Bibi (47’/2T).
06/11/2005.
REMO 2 X 0 AMÉRICA-RN.
Estádio Olímpico do Pará Jornalista Edgar Proença/Mangueirão.
Gols: André Barata (27’/1T) e Landu (40’/2T).
13/11/2005.
REMO 2 X 2 IPATINGA-MG.
Estádio Olímpico do Pará Jornalista Edgar Proença/Mangueirão.
Gols: Maurílio (26’/1T) e Douglas Richard (43’/1T); Jaílton (47’/1T) e Marinho (15’/2T).
20/11/2005.
NOVO HAMBURGO-RS 1 X 2 REMO.
Estádio Santa Rosa – Novo Hamburgo (RS).
Gols: Luiz Gustavo (34’/2T); Capitão (2’/2T), Maurílio (29’/2T).
Obs.: Remo campeão brasileiro da Série C 2005.
O JOGO DO TÍTULO
20/11/2005.
NOVO HAMBURGO-RS 1 X 2 REMO.
Campeonato Brasileiro Série C 2005 – Fase Final.
Estádio Santa Rosa – Novo Hamburgo (RS).
Público: 242 (pagantes).
Renda: R$ 1.695.00.
Árbitro: Djalma José Beltrami (RJ).
Novo Hamburgo-RS: Luciano; Dias, Sidney e William; Rafael, Pedro Ayub, Émerson, Preto e Gérson (Valdinei); Flaviano (Duda) e Luiz Gustavo. Técnico: Gilmar Iser.
Remo: Rafael; Marquinhos, Magrão, Carlinhos e Eduardo (Sérgio); Márcio, Serginho, Maurílio e Geraldo (Capitão); Landu e Douglas Richard (Aílton). Técnico: Roberval Davino.
Gols: Luiz Gustavo (34’/2T); Capitão (2’/2T), Maurílio (29’/2T).
Cartões Amarelos: Preto; Eduardo, Marquinhos, Sérgio, Aílton e Rafael.
Expulsão: Sidiney.
A festa do título em terras gaúchas. Foto: Reprodução
Para visualizar outros detalhes da campanha, acesse Temporada de 2005.
FESTA DOS CAMPEÕES SEM OS CAMPEÕES
No dia 31/01/2006, antes da bola rolar no jogo contra o São Raimundo-PA, pelo Campeonato Paraense de 2006, o Remo promoveu a cerimônia oficial do título brasileiro da Série C de 2005. A diretoria havia mandado confeccionar 50 faixas. Todavia, dos campeões brasileiros, apenas Rafael – que entrou em campo com a taça –, Léo, João Pedro e Paulista, receberam o seu prêmio por ainda figurarem no elenco. Ao invés de enviar as faixas ao restante dos campeões e ao técnico Roberval Davino, a diretoria resolveu distribuí-las aos jogadores em campo que atuaram naquele dia – a maioria reserva – e aos “estranhos”, como noticiou o Diário do Pará.
Os campeões com a taça da Série C – Foto: Reprodução.
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