sábado, 30 de setembro de 2023

A Reorganização de 1911, por Elzeman Magalhães

No dia 15/08/1913, o Estado do Pará publicou o texto “Rowing”, escrito por Elzeman Magalhães, que assinou com o pseudônimo de Elzamag, sobre a Reorganização do Grupo do Remo:

"Devido ao nosso meio, em que coisas de esporte são tratadas com desprêzo e sem a mínima consideração, pelos nossos homens que podem, o Grupo do Remo, depois de um verdadeiro jôgo de QUEM DER MAIS, em que naturalmente saiu vencedor o burguês ricaço e ambicioso que precisava da casa para explorar um monopólio, que felizmente morreu esta nossa importante sociedade náutica, ficou sem garagem. Neste tempo era presidente do Grupo o conhecido Rower da 'guarda velha' Raul Engelhard, que tudo fêz para conseguir uma casa que servisse para uma garagem de canoagem. Coisa impossível! Não havia em Belém! As casas que ficam à beira-mar estavam tôdas ocupadas.

E assim, devido às exigências de um proprietário e à ganância de um ÁGUIA, tivemos que sacudir os nossos barcos para MIRAMAR onde foi Entreposto de Inflamáveis. Passou um ano e do Grupo do Remo, a única sociedade exclusivamente náutica que Belém possuía, só restava os seus barcos jogados em um armazém, estragando-se à falta de trato. E tudo isso porque no Pará os homens que podem... são os primeiros a prejudicar a boa marcha das sociedades esportivas, completamente ao contrário do que se faz no Sul, onde já se compreende o que é esporte em geral. Foi num domingo, a convite de Oscar Saltão, êste verdadeiro apaixonado do nosso querido Grupo, que em duas embarcações saímos a passeio até Val-de-Cães. Ao passarmos por MIRAMAR, tivemos a boa lembrança de pararmos aí, a fim de vermos os nossos barcos. Que impressão triste e desagradável nos causou o estado de abandono em que se achava o nosso material de canoagem servindo até de CURRAL de cabras. Saltão, com olhar triste, demonstrando bem o que lhe ia na alma; olhou-nos e disse: – Vocês querem levantar o GRUPO DO REMO?

Todos responderam que SIM, e onze rapazes tomaram o compromisso de levantar a nossa veterana sociedade. Desde aquêle domingo, começou de nôvo a nossa tentativa de reorganizar o Grupo, tarefa muito difícil, que muito trabalho deu, mas havia um compromisso de honra entre os onze Rowers do Grupo, e por isso saímos vitoriosos. Depois de várias tentativas e cavações conseguimos casa para a garagem.

O principal estava feito, foi um delírio entre os rowers do Grupo quando o Saltão, sempre incansável, participou a nova, até o Felinto "morreu no chope do 'Tartaruga'.

E não perdendo tempo, arranjou-se uma lancha, e no dia 15 de agôsto de 1911, às 6 e meia da manhã, seguiu para o Entreposto o célebre cordão dos onze a fim de trazer o material do Grupo. Os ONZE assim constituídos: Oscar Saltão, Antonico Silva, Geraldo Mota (Rubilar), Jaime Lima, Cândido Jucá, Harley e Nertan Collet, Severino Poggy, Mário Araújo, Palmério Pinto e quem escreve essas linhas, não tiveram fôrça a medir, só pensando em vencer, acabaram aquela inesquecível MUDANÇA dum completo material de canoagem às 7 horas da noite. O que foi aquêle trabalho, basta repetir a frase do mestre da lancha, velho português acostumado nas lutas pela vida, que bem demonstrava a sua admiração pelo esfôrço daqueles Rowers:

'Êstes moços sabem pegar no pesado como a gente.'

Saltão e seus companheiros muita satisfação sentirão no dia de hoje, que marca o segundo aniversário da reorganização do nosso Grupo, que se encontra atualmente com franca prosperidade, vendo que seus esforços não foram baldados.

Terminando estas ligeiras notas sôbre a reorganização da nossa sociedade, o humilde rabiscador das mesmas não teve outro intuito a não ser o de mostrar ao público de sua terra como se luta aqui neste nosso Estado, que temos orgulho de dizer que é o melhor depois de Rio e São Paulo, com uma sociedade esportiva, e que possa calcular a fôrça da vontade que tiveram êsses ONZE moços que só tiveram por auxílio o tema de 'UM POR TODOS E TODOS POR UM', como num verdadeiro time de futebol.

À diretoria atual, os nossos cumprimentos pela data de hoje e pelo muito que tem feito a bem do progresso moral e material do nosso querido 'GRUPO DO REMO', campeão de remo no Pará de 1911, 1912, 1913".

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