quinta-feira, 10 de março de 2022

A Evolução do Escudo do Clube do Remo

Linha evolutiva do escudo do Clube do Remo (acervo Ítalo Costa)
 
O escudo é o símbolo máximo de um clube. É o principal elemento de identificação de uma marca e de vínculo com o seu público. Nesse aspecto, o Clube do Remo teve a expertise de apresentar um dos mais belos e respeitados escudos do futebol brasileiro por meio de um minuscioso trabalho de rebranding (renovação de marca).

A história do tradicional emblema remista é cercada de nuances que o tornam ainda impactante e significativo. Tudo isso será discutido a seguir, com base nos estudos de Ítalo Costa, professor de artes visuais, criador da atual versão do escudo do Remo.

O PRIMEIRO ESCUDO

A primeira descrição simbólica do Clube do Remo remete ao Estatuto Social de 1905, divulgado no Diário Oficial do Estado, número 4.049, de 13 de junho daquele ano. O seu 15° artigo trazia o seguinte: "A bandeira do Clube do Remo se comporá d'um retângulo azul marinho, tendo no centro uma âncora branca, em sentido oblíquo, circulada por trêze estrelas da mesma cor". Essa simbologia remete à origem náutica do clube.

Entretanto, à época do levantamento histórico feito por Ítalo, não existia - de fato - um desenho ilustrativo ou qualquer outro registro desse primeiro escudo. Naquele período, os registros fotográficos eram escassos - até haviam imagens dos primeiros atletas azulinos trajando uniformes com o escudo, mas a âncora estava disposta na vertical e não obliquamente, como descrito no estatuto. Devido a isso, ao ilustrar o distintivo, Ítalo optou por tombá-lo para a esquerda, pois era o sentido onde se localiza o coração. Anos após a conclusão da pesquisa, Costa conseguiu, por meio de outras fontes, uma imagem que ratificava o palpite que propunha.

Fotografia de 1906 mostrando alguns dos primeiros sócios do Remo. Ao centro e no canto inferior direito da imagem, observam-se homens trajando camisas com o primeiro escudo com a âncora realmente voltada para a esquerda (acervo Ítalo Costa)

Quanto às estrelas, não se tinha uma resposta sobre a razão da quantidade ser 13. À priori, a hipótese mais aceita era de uma possível relação com o misticismo do número 13, quanto à sorte ou a astrologia, já que naquele tempo as estrelas eram muito utilizadas para a localização nas rotas marítimas. Porém, posteriormente, uma descoberta poderia dar uma nova luz sobre a explicação das 13 estrelas.

Em 2020, Ítalo divulgou o resultado mais aprofundado de sua pesquisa. Nela, ele tomou conhecimento da bandeira do Yacht Club dos Estados Unidos, instituída pelo Congresso Americano em 1848. A insígnia em seu cantão muito se assemelha ao primeiro distintivo do Clube do Remo, inclusive com relação às estrelas. Nesse caso, elas fazem referência às 13 primeiras colônias norte-americanas.

Bandeira do Yacht Club dos EUA (acervo Ítalo Costa)

Seria então o primeiro escudo azulino fruto da influência norte-americana e não a britânica, como historicamente se associa ao Remo? Esta é uma pergunta que necessita de mais estudos para ser respondida.

TRANSFORMAÇÕES 

Após a Reorganização de 1911, o Remo renovou o seu escudo. Este apresentava um formato circular, muito semelhante à uma boia salva-vidas, trazendo "Grupo do Remo" - primeiro nome da agremiação - na parte superior e "1905" - data de fundação - na inferior. Ao centro, as letras "G" e "R" encontravam-se entrelaçadas, sendo transpassadas por um par de remos cruzados.

ESCUDO ALTERNATIVO - Durante essa época, o Remo também lançou mão de outro distintivo, menos comum. De características mais minimalistas, ele trazia as iniciais "G" e "R" isoladas e ladeando o par de remos cruzados.

Representação do escudo alternativo do Grupo do Remo (acervo Ítalo Costa)

Fotografia provavelmente datada entre 1911 e 1914 mostrando alguns atletas azulinos, cujos uniformes apresentam os três primeiros escudos do clube (acervo Ítalo Costa)

Em 1914 se deu oficialmente a troca do nome de Grupo para Clube do Remo. Consequentemente, isso também representou a mudança no distintivo azulino, que finalmente ganharia o seu formato tradicional. Este é oriundo da manutenção dos elementos dos escudos anteriores - como o entrelaçamento das iniciais e a conformação circular em sua parte inferior -, associado ao uso dos recortes arredondados simétricos superiores, herança da heráldica inglesa, a qual os fundadores tiveram contato.

MODERNIZAÇÃO

Desde então, o escudo remista apresentou algumas alterações em seu formato, no entanto, sem perder a sua essência. Mas diante disso, surgiu um problema: como não havia uma preocupação quanto à aplicação adequada do escudo, cada nova fornecedora de material esportivo do Clube do Remo fazia suas próprias alterações no emblema, tornando extremamente difícil a sua padronização. 

Foi pensando nisso que Ítalo, em parceria com o Departamento de Marketing do Remo, após extenuantes pesquisas, criou a versão atual do escudo remista, incorporando elementos que conferem um aspecto mais moderno ao tradicional símbolo azulino. Consoante a isso, foi, enfim, criado o Manual de Uso da Marca, que determina as diretrizes que orientam quanto ao seu uso correto.

O novo e atual escudo do Remo foi divulgado oficialmente em 10 de dezembro de 2013 nas mídias do clube. De início, parte da torcida "estranhou", mas com o passar do tempo, o escudo "caiu nas graças" do público, sendo cultuado pela sua beleza e simplicidade. Não foi à toa que, em 2017, o Remo figurou no Top 10 dos escudos mais bonitos do futebol brasileiro, em pesquisa conduzida pelo blog "Pombo Sem Asa", vinculado ao globoesporte.com, que levou em consideração a opinião imparcial de 100 estrangeiros. 

Recorte da matéria do caderno "Bola", do jornal "Diário do Pará", evidenciando o escudo do Clube do Remo entre os 10 mais bonitos do Brasil (acervo Ítalo Costa)



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