sexta-feira, 18 de fevereiro de 2022

O Primeiro Re-Pa

Aspecto da arquibancada do estádio da firma Ferreira & Comandita no primeiro Re-Pa da história (Arquivo/Ferreira da Costa)

O primeiro Re-Pa da história ocorreu no remoto 14 de junho de 1914, quando o Grupo do Remo (primeira denominação do Clube do Remo) venceu o Paysandu por 2 a 1. O jogo era válido pelo Campeonato Paraense de Futebol de 1914 e marcou a inauguração do campo da empresa Ferreira & Comandita – atual estádio Leônidas Castro –, localizado à Av. Tito Franco, hoje Av. Almirante Barroso, esquina com a Tv. Curuzu.

O jornal Correio de Belém publicou uma matéria sobre o jogo, informando que “as arquibancadas e demais dependências do campo, completamente repletas de nossa fina sociedade, rapazes, que agitavam lenços e chapéus, saudando o seu grupo predileto, senhoritas trazendo distintivos ou trajando com as cores de seu clubes mais simpático, davam aspecto verdadeiramente encantador ao importante certame esportivo”. Conta ainda o jornal que os elevens entraram em campo, saudados por “vibrante salva de palmas e hurras (...) notando-se porém que era maior o número de adeptos do Grupo do Remo”.

A partida iniciou-se “às 4:20 horas, exatamente levado ao campo o representante do Sr. Intendente, é por este dado o hick off inicial. O árbitro, Sr. Guilherme Paiva, dispõe as forças contendoras, que ficam compostas deste modo, com pequena diferença do que dissemos ontem por ter adoecido Abílio Silva, o capitão do Grupo do Remo. Em seguida, as escalações dos times:

GRUPO DO REMO – Corintho; Lulu, Mustard, Galdino, Aimeé, Carlito, Macedo, Dudu, Antonico, Infante e Rubilar.

PAYSANDU – Romariz, Bayma, Silvio, Jaime, Palha, Michel, Morais, Hugo, Garcia, Guimarães e Mateus”.

“O jogo começou por um ataque forte, desenvolvido pelo Grupo ataque que se torna cada vez mais intenso e cerrado como se os rewwers-footbal-lers quisessem desde logo abrir o escore, que se esperava grande pela força dos seus pares. Entretanto, as linhas opostas oferecem uma resistência incomparável e Romariz começa desde aí a mostrar-se um elemento de valor no seu team”. A pressão do Remo era intensa, tanto que “da violência do seu ataque, seguramente 20 minutos de bombardeio no goal do Paysandu saíram dois corners, tirados por Rubilar, sem resultado efetivo".

Romariz, goleiro bicolor, passa a ser o grande destaque da equipe, barrando as investidas do Grupo do Remo, em especial dos fowards Antonico e Dudu, que “ora recebe rapidamente o balão e o devolve ao centro, ora ataca a esfera deitado no solo, em defesas magistrais que levantam emocionada toda a assistência”. “Os backs do Remo adiantam a bola em kicks certeiros e, pouco depois, de uma furada de Silvio, Galdino marca novo corner, que ainda sai negativo”.

“O balão passa um momento para o campo do Grupo do Remo, formando-se uma boa combinação entre Hugo e Moraes. Os homens do Paysandu dispõe-se a atacar, os quais fazem com muita calma e segurança, distribuindo o jogo em face do goal inimigo”. Garcia chegou a marcar “um goal em off-side”.

Passado o susto, “o balão volta ao campo oposto, onde, um corner tirado por Rubilar, o Grupo do Remo fez o seu primeiro goal, abrindo o score. Este ponto, porém, não teve grande relevo desportivo porque, vindo o balão contra o sol, não é visto por Bayma que, de sua própria perna, o atira na rede do seu goal, ocasionando esse ponto contra o seu time”. Três minutos depois, o juiz sinaliza o "half time".

Na volta para o segundo tempo, o Remo começa atacando “com um corner tirado por Rubilar, sem resultado” e o Paysandu revide através de Mateus, mas Corinto faz uma grande defesa. “O balão começa a voar indeciso, ora aqui, ora ali até que, de uma defesa de Romariz, Rubilar é mandado tirar mais dois corners negativos. Lulu faz um hands corrigido por um free kick contra seu campo. Dessa investida com o balão dos homens do Paysandu dominam-no e, de um passe de Guimarães, Mateus marca o primeiro goal, o que provoca o delírio dos torcedores”, empatando a partida.

A partir daí, o público assiste os atletas de ambos os lados começam a atacar em busca do gol decisivo que daria a vitória ao seu time. E ele sai: “O balão vem às mãos de Romariz que, perdendo a calma, faz inadvertidamente um quarry off, que o árbitro mui justamente e até benevolente manda castigar com um freekick a 12 metros do goal. Julgando tratar-se de um pênalti, os companheiros de Romariz não se apresentam na defesa conjunta do seu campo e Antonico tira um pontapé franco para o Grupo do Remo. O que lhe assegura a vitória, pois, pouco minutos passados, silva o término do belíssimo match, dando escore de 2x1 a favor dos ótimos rapazes do Grupo”.

O jornal dá os destaques do jogo: “É de justiça salientar como os que melhores defenderam as suas cores, no Grupo do Remo: Mustard, Infante, Lulu e Carlito; e nas linhas do Paysandu, Palha, Michel, Hugo e Romariz, muito principalmente este que revelando-se um goal keeper que entra no gol dos melhores do nosso meio, foi o homem do dia”.

Finalizando, o texto exalta o referee dr. Guilherme Paiva, “um defensor brilhante da ciência do association, arbitrando imparcialmente o match de ontem”.


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