sexta-feira, 8 de março de 2024

As Leoas: O Futebol Feminino do Clube do Remo

CONTEXTO HISTÓRICO

As Leoas, tricampeãs paraenses em 2023. 
Foto: Samara Miranda/Remo.

Ainda que fosse (e ainda seja) um esporte majoritariamente praticado por homens, o futebol sempre contou com a participação das mulheres para o seu crescimento. Um exemplo claro desse processo é a presença significativa do público feminino durante os jogos desde o início do século 20. Em uma época na qual o futebol era estritamente elitizado, os estádios se encontravam preenchidos por representantes da alta sociedade, destacando-se a presença das damas e seu característico jeito de assistir aos jogos, torcendo as suas vestimentas em lances mais intensos – daí se originou o termo "torcedor".

No Pará, esse fenômeno também foi além e as mulheres não apenas se restringiram ao papel de expectadoras. Uma prova disso remete ao ano de 1921, quando o jornal Folha do Norte, na pessoa do seu cronista MacDonne, promoveu um concurso de palpites sobre qual clube seria o campeão paraense naquela temporada com participação exclusiva das mulheres. O projeto foi um sucesso. Após 21 dias (6-27/03), mais de 30 mil cupons foram apurados, tendo como vencedor o Clube do Remo com 16.729 votos contra 14.266 votos do Paysandu, recebendo o troféu Folha do Norte como prêmio.

As mulheres também eram atuantes nos famosos festivais esportivos promovidos pelos clubes na primeira metade do século 20, que contavam com disputas de natureza diversas, geralmente com atividades recreativas, como cabo de guerra e corrida com saco de batatas. Nesse meio, também estavam os jogos de futebol. Existe até o relato de um jogo entre "Arranca Toco" e "Tira-Teima" – times internos de Remo e Paysandu, respectivamente –, disputado na Curuzu pelo festival bicolor de 1919, que foi apitado por uma mulher (Fernanda Mello).

Segundo o pesquisador Itamar Gaudêncio, em sua obra Diversão, rivalidade e política: o Re x Pa nos festivais futebolísticos em Belém do Pará (1905-1950), em 1924 foi criado o Bloco das Palmeiras, um time de futebol formado exclusivamente por mulheres, sediado na rua 16 de Novembro. Segundo o noticiário da época, tratava-se do primeiro time de futebol do Brasil – ainda que estudos posteriores apontem para outras vertentes.

Entretanto, apesar de tudo isso, a prática futebolística pelas mulheres sempre foi visto com muito preconceito. O cúmulo foi em 1941, quando o Conselho Nacional de Desportos (CND) proibiu a prática do futebol feminino no Brasil através do decreto-lei (3.199, artigo 54). Somente em 1979, décadas depois, que essa lei foi revogada. Nesse meio tempo, o futebol feminino ficou relegado às peladas, como acontecera com o Fuzuê, famoso time amador dos anos 70, que contava com meninas entre 16 e 18 anos, conforme relata a professora Sandra Magalhães em seu trabalho Memória, futebol e mulher: anonimato, oficialização e seus reflexos na capital paraense (1980-2007)

Em 1983, enfim, o futebol feminino foi regulamentado pelo CND. É aqui que, de fato, inicia oficialmente a trajetória do Clube do Remo na categoria, que organizou a sua equipe para a disputa do primeiro Campeonato Paraense da categoria, organizado pela Federação Paraense de Futebol (FPF). A competição contou ainda com a inscrição de Paysandu, Tuna e Yamada Clube. As pioneiras Leoas marcaram seu nome na história, arrematando não apenas o estadual, como também o Torneio Início.

O Clube do Remo foi o primeiro campeão paraense feminino em 1983. 
Colorização: Adenirson Olivier/Cultura de Remo

Nos anos e décadas subsequentes, o futebol feminino viveu à sombra do masculino, mesmo com a criação da Seleção Brasileira, as grandes campanhas e grandes jogadoras, como no caso de Marta, considerada a melhor jogadora do mundo. Muito disso em função da falta de organização e incentivo adequados para o desenvolvimento do esporte, que ainda vivia em um status de amadorismo/semi-profissionalismo. Apenas alguns clubes se sobressaíram; a grande maioria teve dificuldades de manter um time feminino, inclusive o Clube do Remo que passou anos sem ter uma regularidade no esporte e, por vezes, extinguiu a categoria.

A reativação do time feminino do Clube do Remo em 2016

Foi somente em 2016, com um projeto nacional de valorização do futebol feminino, que o Leão Azul reativou a sua equipe, através de uma parceria com a Universidade Estadual do Pará (UEPA). O retorno foi muito difícil, com um desempenho pífio, culminando até com uma polêmica retirada do Campeonato Paraense daquele ano. Mas aos poucos o Remo foi se reorganizando e incrementando a sua equipe para sair do papel de coadjuvante.

Com um ambicioso projeto, o Leão Azul contratou tanto jogadoras, quanto profissionais da ESMAC, a maior potência do futebol feminino no Pará. Os resultados não demoraram a aparecer: o Remo foi campeão paraense em 2021 após quase 40 anos e engatou um tricampeonato com as conquistas de 2022 e 2023, sempre com campanhas espetaculares. Ainda nesse último ano, as Leoas foram além e conseguiram o vice da Série A3 do Campeonato Brasileiro e o acesso para a Série A2, marcando um período de glórias e soberania azulina na categoria.

TÍTULOS

Campeonato Paraense: 1983, 2021, 2022 e 2023.
Torneio Início: 1983 e 1984.
Torneio Graciete Maués (PA): 2022.

RETROSPECTO (todos os jogos da história do Clube do Remo desde 2016).

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