sexta-feira, 15 de agosto de 2025

Cândido Jucá, o Último dos Moicanos


Matéria de "O Liberal", de 15 de agosto de 1967, intitulada "Cândido Jucá – O Último dos Moicanos", uma entrevista com o último reorganizador azulino vivo naquela época:

Candido Jucá sobe ao seu aposento no andar superior e traz alguns recortes que guarda com carinho. Uma reportagem publicada na Gazeta Esportiva, assinada por Edgar Proença, e mostra-nos uma Revista do Clube, feita pelo Edir, que conta coisas do Leão do passado.

– Nos reuníamos nos cafés, nas residências dos amigos. Um dia, porém, conseguimos alugar uma casa na Siqueira Mendes, adiante da casa onde hoje é a nossa hoje é a nossa garage náutica. Esta foi a nossa primeira sede. Hoje, o Leão Azul tem um Palácio! 

FUTEBOL COM ANTONICO SÓ EM 13 BRILHOU...

Candido Jucá revela que nunca foi muito de bola. Batia apenas para desenferrujar as pernas. Patroava, também, para conseguir bons músculos, mas, nunca foi craque. Bom torcedor, isto sim! Hoje é benemérito por grandes serviços prestados ao ao clube. "Futebol, quem introduziu no Remo, foi o Antonico, pal do Edilberto Silva, que mais tarde viria ser um grande campeão, um zagueiro e tanto! Mas, somente em 1913, fomos campeões, com Bernardino no goal – Mota e Infante na zaga – Carlito, Aimé e Lulu na linha média e Rubilar, Nahon, Antonico, Chermont e Dudu. Nesse tempo não havia 4-2-4, nem diagonal nem retranca. Não sou saudosista, mas, antigamente se jogava mais bonito e muito mais com garra, com objetivo!...

Em 1911, já no fim do ano, o Remo ganhava a Regata e era campeão de mar que foi o seu primeiro título conquistado oficialmente sob as novas cores e nova organização. Em 16 brilhava na natação, salto e polo aquático que era um dos certames mais animados da época.

FIM QUE NÃO É FIM

Para Candido Jucá, a vida se resume em sua família e no Remo. É pai de 3 filhos todos remistas e sua maior alegria é que os netos (2) já também se manifestam pro Leão Azul. Ainda quero ver o Remo ser campeão este ano, de várias modalidades. No remo, no futebol, no basquetebol e no vôlei, acredito que vamos levar a melhor. Para isto, compareço a tudo, graças a Deus!

Ainda firme em sua torcida pelas cores azulinas, indo a campo como domingo último, ou não perdendo um só jogo na quadra do Ginásio Serra Freire, que é pertinho de sua casa, Candido Jucá – o reorganizador vivo do Clube do Remo, nos seus 75 anos de existência, recorda 15 de agosto de 1911...

Candido Jucá, um tanto alquebrado pelo tempo, foi um dos 10 filhos do primeiro matrimonio do velho Jucá. Um de seus irmãos (já do segundo matrimonio de seu pai), o Barata Jucá, que é meu amigo e trabalha na Cipab, saiu diferente: é Papão da Curuzu tinindo...

– É, revela Candido, – eu pagava a entrada dele no campo, pro safado torcedor contra o meu clube! Mas isto já faz tanto tempo...

UM TIME FAZ UM CLUBE

O "velho" Jucá recebe amavelmente (entre acanhado e surpreso) o jornalista. Sua casa, com alguns móveis modernos e outros antigos, revela logo de antemão que seu dono tem estórias a contar.

E êle revela então, com certo orgulho de torcedor e benemérito remista – Fomos onze, um time. Metemos o peito e decidimos reorganizar o Remo que desde 1910 sofrera uma crise e estava a se apagar. De seus fundadores, só havia em nosso grupo, o Palmério Pinto, que morreu mais tarde no Rio. Ele, eu, e mais: Oscar Saltão, Elzemann Magalhães, Geraldo Mota mais conhecido como Rubilar, Severino Poggi, que morreu em Pernambuco; Mario Araujo, também mais tarde falecido em Recife: Antonio Ribeiro da Silva, o Antonico; Jaime Lima que faleceu depois no Rio, e os manos Harley Corlett Pereira e Nertan Corlett Pereira, ambos falecidos mais tarde no Ceará, decidimos reestruturar o Grupo do Remo. O Remo não tinha sede, não tinha nada. Mas, no dia 15 de Agosto de 1911, concretizamos a nossa idéia. Mudamos de Grupo para Clube do Remo, com escudo CR como está até hoje. De lá, para ca, o tempo mostrou que estavamos no caminho certo, não deixando o Remo "morrer"...