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sexta-feira, 7 de abril de 2023

As Diferentes Estatísticas do Re-Pa

Foto: Sílvio Garrido

O Re-Pa é o clássico de futebol mais disputado do mundo. Isso é quase um consenso. Entretanto, o número total de vezes em que Remo e Paysandu estiveram frente a frente em disputas futebolísticas ainda é motivo de discussões e polêmicas. 

No dia 12/04/2009, quando o Remo venceu o Paysandu por 2 a 1, em jogo válido pelo Campeonato Paraense, celebrava-se naquele momento a marca de 700 clássicos disputados desde 1914. Desde então, tem comum a cada novo embate entre azulinos e bicolores que a mídia esportiva paraense especifique o número do confronto, como por exemplo a manchete do DOL em 27/03/2023 após a vitória azulina na reabertura do Mangueirão: "Re x Pa 767: Clube do Remo foi arrebatador contra o Paysandu".

A base de dados que a imprensa e os próprios clubes utilizam para determinar as estatísticas do clássico pertence ao jornalista Ferreira da Costa. Em 2003, ele lançou o seu primeiro livro destinado unicamente ao clássico – A História do Clássico Re-Pa – e desde então vem publicando novas obras cada vez mais atualizadas. Devido ao seu pioneirismo e contribuição à memória do futebol paraense, as estatísticas de Ferreira são tratadas como "oficiais", porém, não são as únicas.

Referência em trabalhos estatísticos relacionados ao futebol, o site Futebol80 é administrado pelo jornalista Francisco Nepomuceno e elenca os resultados históricos de quase uma centena de clubes e seleções – como o próprio site afirma, é um "Almanaque sendo escrito online". Além do extenso arquivo do próprio dono, o Futebol80 conta com a colaboração de pesquisadores do Brasil inteiro. No que diz respeito aos dados dos clubes paraenses, o grande responsável é o pesquisador Jorginho Neves, que fez o seu levantamento de todos os jogos de Remo, Paysandu e Tuna.

Nessa pesquisa, constam quase 40 Re-Pa's a mais que Ferreira da Costa. Mas qual o motivo de tamanha discrepância? Entre outras divergências, o principal fator é que, ao contrário de Ferreira, Neves contabiliza jogos válidos pelo Torneio Início – torneio disputado num único dia entre todos os participantes do Campeonato Paraense, com jogos curtos, de 10 minutos cada tempo geralmente e, cujo vencedor, no caso de empate, poderia ser decidido no total de escanteios ou cobranças de pênaltis.

Entretanto, apesar do Futebol80 usar como base os dados de Jorginho, existe uma pequena diferença: o Re-Pa de 21/08/1983. Essa partida válida pelo primeiro turno do Campeonato Paraense e vencida pelo Remo por 2 a 0 foi anulada e remarcada para o dia 20/11/1983, empate de 1 a 1. Desse modo, seguindo os seus critérios, o Futebol80 considera apenas o jogo remarcado, enquanto Neves contabiliza os dois, por terem sido jogados integralmente.

Por fim, uma quarta versão de estatísticas do Re-Pa é a do historiador remista Orlando Ruffeil, que também possui a sua pesquisa relativa a todos os jogos do Remo. Os dados de Orlando aproximam-se aos do Ferreira, pois ele também não contabiliza o Torneio Início, mas, além disso, Orlando não computa jogos vencidos por WO – quando uma das equipes não comparece ao campo –, sob o pretexto que a partida não aconteceu de fato, logo não entra nas estatísticas.

AS DIFERENTES ESTATÍSTICAS 

Ferreira da Costa:
771 jogos.
268 vitórias do Remo - 978 gols.
261 empates.
242 vitórias do Paysandu - 975 gols.

Jorginho Neves*:
812 jogos.
281 vitórias do Remo - 1.030 gols.
278 empates.
254 vitórias do Paysandu - 1.019 gols.

Futebol80*:
811 jogos.
280 vitórias do Remo - 1.028 gols.
277 empates.
254 vitórias do Paysandu - 1.019 gols.

Orlando Ruffeil:
764 jogos.
266 vitórias do Remo – 1.011 gols.
268 empates.
230 vitórias do Paysandu – 983 gols.

Atualizado até: Paysandu 0 x 0 Remo, 04/02/2024, Paraense 2024.

OPINIÃO

Primeiramente, é importante destacar que, mesmo que uma base estatística possa ser mais aceita do que as outras, não existe uma contagem oficial sobre Re-Pa. Um segundo ponto a ser esclarecido é que nenhum trabalho deve ser considerado melhor que o outro, mas é essencial entender as diferenças metodológicas entre eles, já que cada pesquisador tem o seu critério e ele deve ser capaz de respeitá-lo. Diante disso, cada um é livre para decidir qual versão adotar, assim como farei a seguir.

Dito isso, partimos para a análise de cada trabalho. Começando pela pesquisa do Ferreira da Costa, apesar de mais antiga e famosa, ela possui algumas inconsistências, como por exemplo o jogo do dia 02/04/1922, no qual Ferreira, na página 17 do seu livro RE-PA — O Clássico mais disputado do futebol mundial (2015), retrata um empate de 4 x 4 entre Remo e Paysandu, mas folheando o jornal Folha do Norte da época, é possível observar que esse resultado diz respeito ao jogo entre Remo e Seleção Paraense. Na preliminar, o Remo venceu o Paysandu por 4 x 2 nos times infantis.

Quanto ao Torneio Início, é perfeitamente compreensível que Ferreira não o considere, já que esta competição não é unanimidade entre os pesquisadores e autores de almanaques futebolísticos por causa da sua fórmula de disputa. Mas, tomando como fonte o seu livro anteriormente citado, é possível observar que o autor contabiliza alguns clássicos válidos por festivais promovidos por clubes e associações, com torneios eliminatórios de tempo reduzido em um único dia, tal qual o Torneio Início. Portanto, seguindo o próprio método estabelecido por Ferreira, estes jogos não deveriam entrar nas suas estatísticas.

Essas considerações também poderiam se estender ao trabalho de Orlando Ruffeil, mas infelizmente não dispomos da sua pesquisa completa para uma melhor análise. Mas, no que diz respeito à sua principal característica, que é a não inclusão dos jogos decididos em WO, particularmente acredito ser um equívoco, já que, apesar de não terem sido jogadas, essas partidas são utilizadas para a contagem oficial de pontos nas tabelas de classificação dos mais variados campeonatos.

Quanto aos números do Jorginho, considero os mais completos e próximos da realidade. O fato dele incluir os Torneios Início fundamenta a inclusão dos Re-Pa's de festivais. Sem falar da descoberta de outros jogos que não aparecem nas estatísticas do Ferreira da Costa e, muito provavelmente, também não aparecem nas do Orlando.

Entretanto, é importante frisar que Jorginho considera em seus números jogos anulados e que posteriormente foram remarcados, como o Re-Pa de 1983 citado, e jogos sem registro de placar, nos quais em alguns casos não se sabe se eles foram ou não realizados. Nesse aspecto, divirjo de Jorginho, pois não os contabilizo na minha pesquisa que ainda está em andamento. Portanto, prefiro os dados filtrados pelo Futebol80 e utilizo essas estatísticas como base.

Diante de todo o exposto, essa é a minha opinião. Apesar dos números do Ferreira serem amplamente divulgados, ao meu ver os dados de Jorginho me parecem mais completos, apesar de não concordar com a contabilização dos jogos anulados, assim como também faz o Futebol80. De qualquer forma, respeito todos os trabalhos por contribuírem significativamente na preservação da memória do clássico mais disputado do mundo - em qualquer estatística!

* Nos dados de Jorginho Neves e do Futebol80 também estão incluídos números da pesquisa de Felipy Chaves, autor da Enciclopédia do Leão.

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