domingo, 30 de abril de 2023

Taça Super-Ale

A Taça Super-Ale era uma premiação ofertada após o embate entre o campeão estadual do ano anterior e a Seleção da Liga Paraense de Foot-Ball. Servia para "fechar" a temporada do futebol paraense. 

• 15/01/1916 - Remo 5 x 1 Seleção Paraense - Curuzu.

Re-Pa's Decisivos

Atletas azulinos comemorando a conquista do título paraense de 2022 sobre o Paysandu em plena Curuzu (Cristino Martins/"O Liberal")

É comum dizer que o Re-Pa é um campeonato à parte. De certa forma, é. Muitas vezes, o clássico pode ditar o destino de um dos clubes numa temporada. Mas e quando o Re-Pa realmente decide campeonatos? 

Ao longo da história do Campeonato Paraense, o Clássico Rei da Amazônia já definiu o título em 47 oportunidades, englobando-se decisões diretas e indiretas. Na primeira situação (decisões diretas), o campeão sai de uma final única entre ambos, seja em caráter excepcional por igualdade de pontos (ex., 1917), por vencedores de turnos diferentes (ex., 2014) ou após fases eliminatórias (ex., 2022). Na segunda situação (indiretas), estão incluídos os títulos por antecipação — quando um mesmo time vence ambos os turnos (ex., 2004) — ou quando o clássico coincide com o jogo do título em certame de pontos corridos, nos quais os dois tem chances de conquista (ex., 1915).

Dessa forma, estão listados aqui todos os títulos Paraenses definidos pelo Clássico Rei da Amazônia:

domingo, 23 de abril de 2023

Torneio Pará-Ceará de 1994

O Torneio Pará-Ceará foi um tradicional Torneio disputado na primeira metade dos anos 90 envolvendo as maiores expressões futebolísticas desses estados que possuem relações históricas: Remo, Paysandu, Fortaleza e Ceará. Teve apenas duas edições: 1993, vencida pelo Ceará, e 1994, ganha pelo Remo. 

O título azulino foi obtido de maneira invicta com uma rodada de antecedência, ao empatar em 0 x 0 com o Fortaleza no estádio Presidente Vargas (CE), no dia 01/02/1994. Com esse resultado, o Leão chegou aos oito pontos e três vitórias, não podendo mais ser alcançado por ninguém. No último jogo, foi apenas garantir a invencibilidade diante do Vovô.

CAMPANHA

23/01/1994 - Remo 1 x 0 Paysandu.
25/01/1994 - Remo 1 x 1 Ceará.
27/01/1994 - Remo 1 x 1 Fortaleza.
30/01/1994 - Paysandu 3 x 4 Remo.
01/02/1994 - Fortaleza 0 x 0 Remo.
03/02/1994 - Ceará 2 x 2 Remo.

JOGO DO TÍTULO

FORTALEZA-CE 0 X 0 REMO.
Local: Estádio PV (Fortaleza, CE).
Público: 4.808 (pagantes).
Renda: CR$ 8.257.500,00.
Árbitro: Júlio Rocha.
Auxiliares: Dager Mourão e Gílson Albuquerque.
Fortaleza: Júlio César; Expedito, Riger, Oliveira e Cesar Soares; Luís Fernando (Alberto), Alex e Eliezer (Maradona); Valdir (Alaílson), Marcelo Brito (César Loiola) e Cosme. Técnico: Rui Guimarães.
Remo: Clemer; Júlio César (Marcelo), Belterra, César e Júnior; Hélio Maranhense, Cléberton e Mauro (Hélio Carioca); Mazinho (William), Alex, Warison e Tarcísio. Técnico: Tata.
Cartões amarelos: Hélio Maranhense, Tarcísio, Mauro, Valdir e César Loiola.
Cartão vermelho: Hélio Maranhense.

"O remista Tarcísio esconde a bola de Luís Fernando. O Leão jogou tranquilo e ganhou fácil o Pará-Ceará" ("O Liberal", 02/02/1994).

sábado, 22 de abril de 2023

A Legitimidade dos Títulos Regionais do Remo

CLUBE DO REMO, TRICAMPEÃO DO NORTE (1968, 1969 E 1971) E CAMPEÃO NORTE-NORTE (1971). Não deveria, mas o que era pra ser tratado como uma verdade absoluta, infelizmente é motivo de polêmicas acerca da incontestável legitimidade dessas conquistas, municiadas por discursos rasos e clubísticos inerentes à rivalidade. Mas contra qualquer tipo de falácia, nada melhor do que a informação bem argumentada. Essa é a grande razão da existência desse texto: dar luz aos fatos que permeiam um dos momentos mais gloriosos da história do Clube do Remo.

A IMPORTÂNCIA DAS CONQUISTAS

Não há dúvidas de que os títulos conquistados pelo Clube do Remo foram importantes. Afinal, nunca antes um time paraense havia superado os limites do próprio estado. Portanto, as conquistas regionais do Leão geraram um sentimento de pertencimento que não apenas se restringia aos azulinos, mas também abrangia as demais torcidas. Não eram apenas títulos do Remo, mas de todo o futebol paraense. Tanto é que na decisão do primeiro Torneio do Norte, bicolores e fumantes deixavam as suas cores de lado e se renderam ao azul-marinho.

Registro do jornal "O Liberal" após o segundo jogo da final do Torneio do Norte de 1968, demonstrando o apoio de bicolores e fumantes ao Clube do Remo. Naquele momento, o Clube da Maioria se tornava o Clube de Todos!

Outro aspecto que representa a importância dos títulos foram os chamados "Clássicos das Faixas" disputados entre Remo e Paysandu, após a conquista do Torneio do Norte de 1969 e do Norte-Nordeste de 1971. Esses amistosos ficaram marcados pela entrega das Faixas de campeão aos atletas azulinos e a presença dos maiores rivais evidenciam ainda mais o peso dessas glórias.

Imagem do jornal "O Liberal", de 15/12/1969. Apesar da baixa qualidade da imagem (que, no original, trata-se de um microfilme), é possível observar os jogadores bicolores carregando as faixas de bicampeão do Norte que seriam entregues aos azulinos.

A REPERCUSSÃO NA IMPRENSA 

Engana-se quem pensa que tais competições eram valorizadas apenas pelos paraenses. Não, eram almejadas por todos que as disputavam. Porém, pertencem apenas a um seleto grupo de clubes campeões campeões. Seja onde for, esses títulos foram muito comemorados pelas torcidas e ganharam espaço nas mídias regionais. 

Para exemplificar, seguem exemplos de publicações relativas aos pares das conquistas azulinas, ou seja, aos títulos nordestinos de Sport-PE (1968), Ceará (1969) e Itabaiana-SE (1971) e do Centro-Sul do Villa Nova-MG (1971):

"Diário de Pernambuco"... destaca a goleada aplicada pelo Sport-PE sobre o rival Santa Cruz-PE, que consagrou o Leão da Ilha como "NÔVO CAMPEÃO DO NORDESTE".

Em adição, o "Diário da Manhã" (PE)... também ressaltou a conquista rubro-negra: "'Nordestão'" ficou com Sport...".

O "Correio do Ceará" de 09/12/1969 é enfático: "DONO DO NORDESTÃO". No corpo da notícia, o periódico reafirma: "De qualquer maneira, portanto, o Ceará já é o campeão do Nordestão" e esperava o campeão do "Nortão", que seria o Remo.

"O Serrano" (SE) referenciou aquele que é considerado o maior título da história do futebol sergipano com a manchete "Itabaiana é Campeão do Nordeste", após o empate com o Ferroviário-CE em 24/11/1971.

Uma interessante nota publicada em um periódico sergipano informou que a CBD, em seu boletim oficial  n. 18, parabenizou o Itabaiana-SE pela conquista, que "trouxe para Sergipe, pela primeira vez na vida do futebol sergipano, um título de âmbito nacional".

"Diário da Tarde (MG)", de 13/12/1971, estampou "Vila Nova é o campeão do Torneio Centro-Sul", após superar a Ponte Preta-SP em uma emocionante decisão nos pênaltis.

Mas não foram apenas as imprensas locais que se ateram aos campeonatos citados. Grandes veículos da imprensa nacional, em especial do eixo RJ-SP, também noticiaram esses torneios. Abaixo, dois exemplos de periódicos cariocas que fizeram referência ao Clube do Remo:

Jornal "Luta Democrática" (RJ), de 18/12/1971, destacando que o Clube do Remo, "Campeão do Nordestão", ia em busca do título nacional. A publicação ainda faz um breve, mas interessante histórico do Torneio Norte-Nordeste desde 1967.

Recorte do "Jornal dos Sports" (RJ), de 10/09/1972, sobre os participantes da Série A daquele ano, destacando o Remo como primeiro representante paraense na elite, que chegava com o cartaz de vice-campeão da Série B e campeão Norte-Nordeste de 1971.

MAS, AFINAL, NÃO ERAM APENAS FASES?

Um argumento muito comum utilizado para desmerecer essas conquistas é que se tratavam apenas de fases de uma competição maior. Portanto, não podem ser considerados como títulos. Nesse ponto, entra um conceito importante: as competições incorporadas, em outras palavras "competições dentro de competições". Como maior exemplo dessa condição está a Taça Brasil.

A Taça Brasil era disputada em etapas regionais antes de se conhecer o campeão regional. Até aí nada demais. Mas uma informação descoberta pelo pesquisador Clayton Silvestre e divulgada no conceituado blog do jornalista pernambucano Cássio Zirpoli, em matéria intitulada "Os títulos regionais dentro da Taça Brasil, com aval da CBF sobre a 'Taça Norte'" mudou tudo. A publicação traz um recorte do "Jornal dos Sports" (RJ), edição de 17/03/1959, contendo o regulamento da primeira Taça Brasil da história. Nele é possível observar que os times nortista e nordestinos seriam englobados no chamado Grupo Norte e, em paralelo, seria disputada a Taça Norte ao clube campeão do grupo. Ou seja, não era apenas uma simples fase ou "zonal", era um título previsto no regimento oficial da competição.

Mas isso poderia extender ao Torneio/Campeonato Norte-Nordeste? A resposta é sim.

No caso do Torneio Norte-Nordeste, o regulamento foi divulgado pelo jornal "Diário de Pernambuco", de 25/07/1968. O seu 21° artigo expõe o seguinte: "O Torneio será disputado organizando-se duas tabelas distintas para cada região, com o objetivo de apurar o campeão regional. Os dois campeões regionais, disputarão o título de Campeão do Torneio, na fase final, em melhor de quatro (4) pontos". Resumindo: o campeão do Torneio do Norte enfrentaria o campeão do Torneio do Nordeste na decisão do Torneio Norte-Nordeste.

No dia 20/12/1968, o mesmo jornal divulgou um documento oficial da CBD que corrobora com o regulamento. Trata-se da ata da reunião entre representantes da CBD e dos clubes nordestinos, com as respectivas assinaturas e chanfrado com o emblema da entidade. Entre as resoluções, destaca-se a da letra "e": "o vencedor [do Nordeste] disputará com o campeão da Região Norte para apurar o vencedor (campeão) do TORNEIO NORTE-NORDESTE".

Quanto ao Campeonato Norte-Nordeste de 1971, pela sua incorporação ao Campeonato Brasileiro, é necessário estudar o regulamento desta competição. Ele está presente na edição de 05/02/1971 do "Jornal dos Sports" (RJ), em matéria intitulada “BRASIL GANHA O SEU GRANDE CAMPEONATO”, divulgou o plano-base do Campeonato Nacional de Futebol Profissional, aprovado no dia anterior pelo presidente da CBD, João Havelange. Segundo o documento, no que se refere à Primeira Divisão, os artigos 5º, 6º, 7º e 8º do regulamento informavam o seguinte:

"5.º - O campeonato da PRIMEIRA DIVISÃO será disputado por Associações agrupadas em duas REGIÕES, assim denominadas: 'NORTE-NORDESTE' e 'CENTRO-SUL'. Dentro de cada uma dessas REGIÕES podem as Associações ser subdivididas em grupos ou subgrupos.

6.º - As Associações participantes do campeonato da PRIMEIRA DIVISÃO serão indicadas pelas Federações integrantes das respectivas REGIÕES, que se basearão nos resultados dos campeonatos estaduais ou de torneios especiais realizados com a finalidade específica de escolha dos participantes no campeonato nacional.

7.º - À Associação vencedora e à segunda colocada de cada REGIÃO da PRIMEIRA DIVISÃO, atribuir-se-ão, respectivamente, os títulos de CAMPEÃ e VICE-CAMPEÃ DA REGIÃO de que participem, conferindo-lhes diplomas correspondentes.

8.º - A Associação vencedora da REGIÃO NORTE-NORDESTE disputará, na forma do respectivo regulamento com a vencedora da REGIÃO CENTRO-SUL, o título de CAMPEÃ DA PRIMEIRA DIVISÃO".

Em síntese, o primeiro colocado da “região Norte-Nordeste” deve ser tratado como um verdadeiro campeão!

A famosa revista "Placar", de 13/12/1971, também trouxe detalhes do regulamento e um resumo da competição até aquele momento, ressaltando a batalha dos clubes pelos títulos regionais e inter-regional antes da decisão nacional.

Para complementar, uma outra fonte de muito valor são os antigos relatórios anuais da CBD. Sua importância reside no fato serem documentos oficiais que discordem sobre as diversas competições organizadas pela entidade, entre elas os Torneios Norte-Nordeste, reafirmando os títulos azulinos. Vale lembrar que esses documentos também fizeram parte do dossiê para o reconhecimento do "Robertão" como Campeonato Brasileiro pela CBF.

Relatório da CBD de 1968, página 360.

Relatório da CBD de 1971, página 266.

E AS TAÇAS?

Outro ponto que merece explicações é a "inexistência" das taças dessas conquistas. Parece óbvio, mas é fundamental ressaltar que não é pela falta de um troféu que um título não seja válido. Exemplos clássicos os títulos da Taça Brasil de 1966, da Supercopa do Brasil de 1991 pelo Corinthians-SP e da Copa CONMEBOL de 1993 pelo Botafogo-RJ. Em todas as ocasiões, os vencedores não receberam taças, mas seria absurdo não considerá-los campeões.

O que acontece é que muitos campeonatos no passado não premiaram seus vencedores. No caso dos torneios regionais, era comum que os clubes mandassem confeccionar faixas simbólicas alusivas aos títulos. Não apenas o Remo nos famosos "Clássicos das Faixas", mas Sport-PE e Ceará também fizeram. No caso do clube cearense, até o Flamengo-RJ foi convidado para o evento comemorativo ao título nordestino de 1969.

No final de 1968, o "Diário de Pernambuco" promoveu uma festa para a escolha da "Seleção do Nordestão". Campeão, o Sport foi maioria, com direito a entrega de faixas de campeão e Carnaval fora de época.

O mesmo "Diário de Pernambuco", de 14/12/1969, noticiou a festa do Ceará pelo título do Nordeste daquele ano, com direito à presença do Flamengo.

Todavia, não quer dizer que o Filho da Glória e do Triunfo não tenha tido realmente um troféu. Segundo "A Província do Pará", na decisão do Norte-Nordeste de 1971, o Remo foi agraciado com uma taça entregue pelas mãos do presidente da Federação Paraense de Futebol (FPF). Infelizmente, talvez pela falta de cuidado e preservação da história/memória comum no futebol brasileiro, essa peça deve ter se perdido.

Nota do jornal "A Província do Pará" de 10/10/1971, após o título norte-nordestino do Remo. Destaque para a passagem: "Ganhando o Torneio Regional (anteontem recebeu o troféu que fêz jus das mãos do presidente da FPF)...".


sexta-feira, 7 de abril de 2023

As Diferentes Estatísticas do Re-Pa

Foto: Sílvio Garrido

O Re-Pa é o clássico de futebol mais disputado do mundo. Isso é quase um consenso. Entretanto, o número total de vezes em que Remo e Paysandu estiveram frente a frente em disputas futebolísticas ainda é motivo de discussões e polêmicas. 

No dia 12/04/2009, quando o Remo venceu o Paysandu por 2 a 1, em jogo válido pelo Campeonato Paraense, celebrava-se naquele momento a marca de 700 clássicos disputados desde 1914. Desde então, tem comum a cada novo embate entre azulinos e bicolores que a mídia esportiva paraense especifique o número do confronto, como por exemplo a manchete do DOL em 27/03/2023 após a vitória azulina na reabertura do Mangueirão: "Re x Pa 767: Clube do Remo foi arrebatador contra o Paysandu".

A base de dados que a imprensa e os próprios clubes utilizam para determinar as estatísticas do clássico pertence ao jornalista Ferreira da Costa. Em 2003, ele lançou o seu primeiro livro destinado unicamente ao clássico – A História do Clássico Re-Pa – e desde então vem publicando novas obras cada vez mais atualizadas. Devido ao seu pioneirismo e contribuição à memória do futebol paraense, as estatísticas de Ferreira são tratadas como "oficiais", porém, não são as únicas.

Referência em trabalhos estatísticos relacionados ao futebol, o site Futebol80 é administrado pelo jornalista Francisco Nepomuceno e elenca os resultados históricos de quase uma centena de clubes e seleções – como o próprio site afirma, é um "Almanaque sendo escrito online". Além do extenso arquivo do próprio dono, o Futebol80 conta com a colaboração de pesquisadores do Brasil inteiro. No que diz respeito aos dados dos clubes paraenses, o grande responsável é o pesquisador Jorginho Neves, que fez o seu levantamento de todos os jogos de Remo, Paysandu e Tuna.

Nessa pesquisa, constam quase 40 Re-Pa's a mais que Ferreira da Costa. Mas qual o motivo de tamanha discrepância? Entre outras divergências, o principal fator é que, ao contrário de Ferreira, Neves contabiliza jogos válidos pelo Torneio Início – torneio disputado num único dia entre todos os participantes do Campeonato Paraense, com jogos curtos, de 10 minutos cada tempo geralmente e, cujo vencedor, no caso de empate, poderia ser decidido no total de escanteios ou cobranças de pênaltis.

Entretanto, apesar do Futebol80 usar como base os dados de Jorginho, existe uma pequena diferença: o Re-Pa de 21/08/1983. Essa partida válida pelo primeiro turno do Campeonato Paraense e vencida pelo Remo por 2 a 0 foi anulada e remarcada para o dia 20/11/1983, empate de 1 a 1. Desse modo, seguindo os seus critérios, o Futebol80 considera apenas o jogo remarcado, enquanto Neves contabiliza os dois, por terem sido jogados integralmente.

Por fim, uma quarta versão de estatísticas do Re-Pa é a do historiador remista Orlando Ruffeil, que também possui a sua pesquisa relativa a todos os jogos do Remo. Os dados de Orlando aproximam-se aos do Ferreira, pois ele também não contabiliza o Torneio Início, mas, além disso, Orlando não computa jogos vencidos por WO – quando uma das equipes não comparece ao campo –, sob o pretexto que a partida não aconteceu de fato, logo não entra nas estatísticas.

AS DIFERENTES ESTATÍSTICAS 

Ferreira da Costa:
771 jogos.
268 vitórias do Remo - 978 gols.
261 empates.
242 vitórias do Paysandu - 975 gols.

Jorginho Neves*:
812 jogos.
281 vitórias do Remo - 1.030 gols.
278 empates.
254 vitórias do Paysandu - 1.019 gols.

Futebol80*:
811 jogos.
280 vitórias do Remo - 1.028 gols.
277 empates.
254 vitórias do Paysandu - 1.019 gols.

Orlando Ruffeil:
764 jogos.
266 vitórias do Remo – 1.011 gols.
268 empates.
230 vitórias do Paysandu – 983 gols.

Atualizado até: Paysandu 0 x 0 Remo, 04/02/2024, Paraense 2024.

OPINIÃO

Primeiramente, é importante destacar que, mesmo que uma base estatística possa ser mais aceita do que as outras, não existe uma contagem oficial sobre Re-Pa. Um segundo ponto a ser esclarecido é que nenhum trabalho deve ser considerado melhor que o outro, mas é essencial entender as diferenças metodológicas entre eles, já que cada pesquisador tem o seu critério e ele deve ser capaz de respeitá-lo. Diante disso, cada um é livre para decidir qual versão adotar, assim como farei a seguir.

Dito isso, partimos para a análise de cada trabalho. Começando pela pesquisa do Ferreira da Costa, apesar de mais antiga e famosa, ela possui algumas inconsistências, como por exemplo o jogo do dia 02/04/1922, no qual Ferreira, na página 17 do seu livro RE-PA — O Clássico mais disputado do futebol mundial (2015), retrata um empate de 4 x 4 entre Remo e Paysandu, mas folheando o jornal Folha do Norte da época, é possível observar que esse resultado diz respeito ao jogo entre Remo e Seleção Paraense. Na preliminar, o Remo venceu o Paysandu por 4 x 2 nos times infantis.

Quanto ao Torneio Início, é perfeitamente compreensível que Ferreira não o considere, já que esta competição não é unanimidade entre os pesquisadores e autores de almanaques futebolísticos por causa da sua fórmula de disputa. Mas, tomando como fonte o seu livro anteriormente citado, é possível observar que o autor contabiliza alguns clássicos válidos por festivais promovidos por clubes e associações, com torneios eliminatórios de tempo reduzido em um único dia, tal qual o Torneio Início. Portanto, seguindo o próprio método estabelecido por Ferreira, estes jogos não deveriam entrar nas suas estatísticas.

Essas considerações também poderiam se estender ao trabalho de Orlando Ruffeil, mas infelizmente não dispomos da sua pesquisa completa para uma melhor análise. Mas, no que diz respeito à sua principal característica, que é a não inclusão dos jogos decididos em WO, particularmente acredito ser um equívoco, já que, apesar de não terem sido jogadas, essas partidas são utilizadas para a contagem oficial de pontos nas tabelas de classificação dos mais variados campeonatos.

Quanto aos números do Jorginho, considero os mais completos e próximos da realidade. O fato dele incluir os Torneios Início fundamenta a inclusão dos Re-Pa's de festivais. Sem falar da descoberta de outros jogos que não aparecem nas estatísticas do Ferreira da Costa e, muito provavelmente, também não aparecem nas do Orlando.

Entretanto, é importante frisar que Jorginho considera em seus números jogos anulados e que posteriormente foram remarcados, como o Re-Pa de 1983 citado, e jogos sem registro de placar, nos quais em alguns casos não se sabe se eles foram ou não realizados. Nesse aspecto, divirjo de Jorginho, pois não os contabilizo na minha pesquisa que ainda está em andamento. Portanto, prefiro os dados filtrados pelo Futebol80 e utilizo essas estatísticas como base.

Diante de todo o exposto, essa é a minha opinião. Apesar dos números do Ferreira serem amplamente divulgados, ao meu ver os dados de Jorginho me parecem mais completos, apesar de não concordar com a contabilização dos jogos anulados, assim como também faz o Futebol80. De qualquer forma, respeito todos os trabalhos por contribuírem significativamente na preservação da memória do clássico mais disputado do mundo - em qualquer estatística!

* Nos dados de Jorginho Neves e do Futebol80 também estão incluídos números da pesquisa de Felipy Chaves, autor da Enciclopédia do Leão.