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terça-feira, 22 de fevereiro de 2022

O Início da Rivalidade entre Remo e Paysandu

A rivalidade entre Clube do Remo e Paysandu já surgiu antes mesmo da criação deste. Devido aos acontecimentos que culminaram no título do Grupo do Remo no Campeonato Paraense de 1913, integrantes do Norte Club resolveram fundar um novo time para fazer frente ao Remo. De início, porém, os dois clubes mantinham relações amistosas. Isso até 1915, quando o Remo convidou o Paysandu para participar de um festival em benefício a outros clubes da cidade, mas recebeu um ofício do time bicolor repleto de insultos e termos injuriosos. Devido a isso, o Remo cortou suas relações com o Paysandu.

Segue abaixo o ofício do primeiro secretário azulino na época, Elzemann Magalhães, publicado no "Estado do Pará" de 25 de fevereiro de 1915 e transcrito no livro "História do Clube do Remo" (1969), relatando sobre o ocorrido:

"À Ilustrada Diretoria do Paissandu Esporte Clube. Em Ville - Saudações

A Diretoria dêste clube, reunida em sessão extraordinária, às 9,30 da noite de 23-2-1915 anteriormente convocada pelo sr. dr. Presidente, para resolver sobre o match em benefício dos clubes União Esportiva, Panther, Guarani, Aliança e Brasil Esporte, foram presentes dois ofícios do sr. Antônio Barros, Capitain do Paissandu Esporte Clube, o primeiro entregue às 11,30 da manhã e o segundo às 9,10 da noite, na sede social dêste clube, ao sr. Aimée Feio, Capitain-geral das elevens do Clube do Remo. No primeiro dêsses ofícios dava aquele sênhor resposta ao desafio de honra lançado ao seu team, e no segundo procurava desfazer as absurdas condições e feitos do primeiro ofício enviado.

A Diretoria, tomando conhecimento dêste, tendo em vista as desconsiderações da primeira cláusula, a insensata pretensão da segunda, por fôrça determinativa dos Estatutos da Liga Paraense de Foot-Ball, a que somos filiados, às regras gerais do Foot-Ball Association e à injúrias imposição da terceira, porquanto atendendo o antigo compromisso dêste clube, juntamente com o Paissandu Esporte Clube, para o Exm.° Sr. Cônsul da Bélgica, Dr. Abel Chermont, já havíamos determinado fôsse o produto dêsse match revertido à Cruz Vermelha Belga, resolveu consignar o seu protesto à injuriosa e desleal com que procurou o Paissandu Esporte Clube esquivar-se ao honroso encontro que lhe oferêceramos. 

Passando à leitura do segundo ofício, unânimamente resolveu a Diretoria não considerá-lo em têrmos suficientes para dar satisfações plenas às inaceitáveis e injuriosas considerações do primeiro. Lembrando o modo sempre cavalheiresco e amistoso com que procurávamos entreter relações com essa nóvel sociedade, como de sobejo prova o nosso auxílio à vossa festa de domingo transato, para qual concorremos a nossa maior boa vontade, em retribuição tendo recebido séries de hostilidades, resolve a Diretoria dêste clube, em sinal do mais solene protesto às desconsiderações recebidas dar término às relações amigáveis que procurava manter com o Paissandu Esporte Clube...

Cumprimentamos.

Pela Diretoria, (a) ELZEMANN MAGALHÃES.

Pará, 22 de fevereiro de 1915. À Diretoria do Paissandu Esporte Clube. Às 11,35 da noite.".

AS PAZES

Após conquistar o tricampeonato paraense com uma acachapante goleada de 5 a 1 sobre o Paysandu, no dia 19 de dezembro de 1915, o Clube do Remo comemorou o título em carreata pelas ruas da cidade até a sede do clube. O mais curioso disso é que os azulinos foram acompanhados justamente pelos rivais bicolores. A atitude foi tratada como um pedido de desculpas em relação aos acontecimentos anteriores, conforme relatou o jornal "Folha do Norte", de 20 de dezembro de 1915.

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2022

A (Pré)Inauguração do Mangueirão

Vista aérea do Mangueirão no dia da sua inauguração extra-oficial, tomado pela massa azulina 

Era o dia 12 de fevereiro de 1978. Pela segunda rodada da terceira fase do Brasileirão de 1977, o Remo enfrentava o surpreendente Operário de Campo Grande, uma das sensações do campeonato. O Mais Querido vivia a expectativa de classificar-se para as semifinais do Nacional - algo jamais almejado por qualquer outra equipe do Norte do país. Portanto, essa partida tinha muito apelo popular. 

Tanto é que 29.934 pessoas se expremiam no Baenão. Porém, a pressão foi demais para a estrutura do velho estádio azulino, acarretando na queda do muro da atual Tv. Rômulo Maiorana, aos 22 minutos de jogo, após lance perigoso do azulino Leônidas. Após muita confusão, o jogo foi suspenso e seria remarcado posteriormente em outro local. Nos dias seguintes, muito "disse-me-disse" em busca da solução para o problema. 

A Confederação Brasileira de Desportos - CBD - até aventou a ideia de transferir o jogo para São Januário (RJ), já que o Remo jogaria fora de casa contra América-RJ e Desportiva-ES. Mas graças a intervenção do governador Aloísio Chaves, a cartolagem remista conseguiu manter o jogo em Belém. Mas, para isso, não havia outro jeito se não forçar a inauguração extra-oficial do ainda incompleto Mangueirão. 

Muro do Baenão desabado com os quase 30 mil azulinos

Até aquele momento, o Baenão era o único estádio paraense apto para receber jogos válidos pela Primeira Divisão, já que os estádios particulares de Paysandu (Curuzu) e Tuna (Souza) não possuíam a capacidade mínima para isso, fazendo com que os rivais também se utilizassem do velho estádio azulino. Entretanto, o Baenão já era alvo críticas dos setores da imprensa e outros clubes, devido as precariedades em sua estrutura, aquém do adequado para grandes jogos. 

Por isso que desde 1971, o Governo do Estado estava providenciando a construção do Mangueirão, que passaria a ser a grande praça de esportes do estado. Mas, devido aos incidentes de Remo x Operário, o "Colosso do Benguí" teve que ser aberto em caráter de urgência, mesmo não finalizado. Nesse meio tempo, o Remo prossegue com os jogos já citados na competição - contra América e Desportiva - e deixar escapar pontos importantíssimos, necessitando recuperá-los. 

Assim chega o inesquecível dia 20 de fevereiro de 1978. Aproximadamente 50 mil pessoas superlotaram o novo estádio do futebol paraense, o Mangueirão – segundo "O Liberal", cerca de 100 mil pessoas estiveram nas imediações. Era tanta gente, que horas antes da partida, as arquibancadas estavam cheias. Naquela tarde festiva, o Remo se impôs contra o Operário e venceu com autoridade por 2 a 0. Mego, com um gol em cada tempo, inaugurou as duas traves. Dessa forma, o Leão mantinha vivo o sonho de avançar para as semifinais do Campeonato Brasileiro.

Momento do segundo gol de Mego, após driblar o goleiro ex-Seleção Brasileira, Manga, selando a vitória azulina diante do Operário

Os gols da histórica vitória (Imagens: TV Liberal)

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2022

O Primeiro Re-Pa

Aspecto da arquibancada do estádio da firma Ferreira & Comandita no primeiro Re-Pa da história (Arquivo/Ferreira da Costa)

O primeiro Re-Pa da história ocorreu no remoto 14 de junho de 1914, quando o Grupo do Remo (primeira denominação do Clube do Remo) venceu o Paysandu por 2 a 1. O jogo era válido pelo Campeonato Paraense de Futebol de 1914 e marcou a inauguração do campo da empresa Ferreira & Comandita – atual estádio Leônidas Castro –, localizado à Av. Tito Franco, hoje Av. Almirante Barroso, esquina com a Tv. Curuzu.

O jornal Correio de Belém publicou uma matéria sobre o jogo, informando que “as arquibancadas e demais dependências do campo, completamente repletas de nossa fina sociedade, rapazes, que agitavam lenços e chapéus, saudando o seu grupo predileto, senhoritas trazendo distintivos ou trajando com as cores de seu clubes mais simpático, davam aspecto verdadeiramente encantador ao importante certame esportivo”. Conta ainda o jornal que os elevens entraram em campo, saudados por “vibrante salva de palmas e hurras (...) notando-se porém que era maior o número de adeptos do Grupo do Remo”.

A partida iniciou-se “às 4:20 horas, exatamente levado ao campo o representante do Sr. Intendente, é por este dado o hick off inicial. O árbitro, Sr. Guilherme Paiva, dispõe as forças contendoras, que ficam compostas deste modo, com pequena diferença do que dissemos ontem por ter adoecido Abílio Silva, o capitão do Grupo do Remo. Em seguida, as escalações dos times:

GRUPO DO REMO – Corintho; Lulu, Mustard, Galdino, Aimeé, Carlito, Macedo, Dudu, Antonico, Infante e Rubilar.

PAYSANDU – Romariz, Bayma, Silvio, Jaime, Palha, Michel, Morais, Hugo, Garcia, Guimarães e Mateus”.

“O jogo começou por um ataque forte, desenvolvido pelo Grupo ataque que se torna cada vez mais intenso e cerrado como se os rewwers-footbal-lers quisessem desde logo abrir o escore, que se esperava grande pela força dos seus pares. Entretanto, as linhas opostas oferecem uma resistência incomparável e Romariz começa desde aí a mostrar-se um elemento de valor no seu team”. A pressão do Remo era intensa, tanto que “da violência do seu ataque, seguramente 20 minutos de bombardeio no goal do Paysandu saíram dois corners, tirados por Rubilar, sem resultado efetivo".

Romariz, goleiro bicolor, passa a ser o grande destaque da equipe, barrando as investidas do Grupo do Remo, em especial dos fowards Antonico e Dudu, que “ora recebe rapidamente o balão e o devolve ao centro, ora ataca a esfera deitado no solo, em defesas magistrais que levantam emocionada toda a assistência”. “Os backs do Remo adiantam a bola em kicks certeiros e, pouco depois, de uma furada de Silvio, Galdino marca novo corner, que ainda sai negativo”.

“O balão passa um momento para o campo do Grupo do Remo, formando-se uma boa combinação entre Hugo e Moraes. Os homens do Paysandu dispõe-se a atacar, os quais fazem com muita calma e segurança, distribuindo o jogo em face do goal inimigo”. Garcia chegou a marcar “um goal em off-side”.

Passado o susto, “o balão volta ao campo oposto, onde, um corner tirado por Rubilar, o Grupo do Remo fez o seu primeiro goal, abrindo o score. Este ponto, porém, não teve grande relevo desportivo porque, vindo o balão contra o sol, não é visto por Bayma que, de sua própria perna, o atira na rede do seu goal, ocasionando esse ponto contra o seu time”. Três minutos depois, o juiz sinaliza o "half time".

Na volta para o segundo tempo, o Remo começa atacando “com um corner tirado por Rubilar, sem resultado” e o Paysandu revide através de Mateus, mas Corinto faz uma grande defesa. “O balão começa a voar indeciso, ora aqui, ora ali até que, de uma defesa de Romariz, Rubilar é mandado tirar mais dois corners negativos. Lulu faz um hands corrigido por um free kick contra seu campo. Dessa investida com o balão dos homens do Paysandu dominam-no e, de um passe de Guimarães, Mateus marca o primeiro goal, o que provoca o delírio dos torcedores”, empatando a partida.

A partir daí, o público assiste os atletas de ambos os lados começam a atacar em busca do gol decisivo que daria a vitória ao seu time. E ele sai: “O balão vem às mãos de Romariz que, perdendo a calma, faz inadvertidamente um quarry off, que o árbitro mui justamente e até benevolente manda castigar com um freekick a 12 metros do goal. Julgando tratar-se de um pênalti, os companheiros de Romariz não se apresentam na defesa conjunta do seu campo e Antonico tira um pontapé franco para o Grupo do Remo. O que lhe assegura a vitória, pois, pouco minutos passados, silva o término do belíssimo match, dando escore de 2x1 a favor dos ótimos rapazes do Grupo”.

O jornal dá os destaques do jogo: “É de justiça salientar como os que melhores defenderam as suas cores, no Grupo do Remo: Mustard, Infante, Lulu e Carlito; e nas linhas do Paysandu, Palha, Michel, Hugo e Romariz, muito principalmente este que revelando-se um goal keeper que entra no gol dos melhores do nosso meio, foi o homem do dia”.

Finalizando, o texto exalta o referee dr. Guilherme Paiva, “um defensor brilhante da ciência do association, arbitrando imparcialmente o match de ontem”.


quarta-feira, 16 de fevereiro de 2022

O Início no Futebol Azulino

Fundado como uma equipe de regatas em 1905 – daí a óbvia origem do nome –, o Remo só ingressou no futebol em 1913, como parte do processo de desenvolvimento esportivo da agremiação, iniciada com a Reorganização de 1911. O responsável por essa empreitada foi Antonio Ribeiro da Silva, o Antonico, que, juntamente com outros elementos do clube, formou o Grupo do Remo Football Team (GRFT), referida nas publicações da época pela sigla GRFT. 

A menção mais antiga de um jogo do Remo foi encontrada no jornal "Estado do Pará", na seção "Chronica Sportiva", de 30/03/1913, sobre a realização de um match-desafio contra o Guarany Foot-Ball Club, transcrita a seguir, obedecendo a grafia da época: 

"Realizar-se-á hoje, ás 4 horas da tarde, no ground de São Braz, um match-desafio de foot-ball lançado pela 1ª team do Guarany Foot-ball-Club, aos rapazes da team do Grupo do Remo.

A team do Grupo do Remo é a seguinte: goal, Bernardino; backs, Eurico e Galdino; hallbacks, Imê, Bernaud e Bolonha; forwards, Robilar, Dudú C., Dudú S., Mario e Antonico".

Infelizmente, não foi possível confirmar a realização desse jogo em edições posteriores do referido jornal. Entretanto, no dia 21/04/1913, feriado nacional em homenagem à Tiradentes, Remo e Guarany voltaram a se enfrentar no Campo da Praça Floriano Peixoto, no Largo de São Brás. Todavia, o resultado desse jogo é motivo de discussão.

O historiador Ernesto Cruz, na sua obra "A História do Clube do Remo" (1969), não divulgou o resultado da partida¹, enquanto que o jornalista Ferreira da Costa, autor de mais de 15 livros sobre a história do futebol paraense, nem ao menos faz referência a essa partida. Já o memorialista e benemérito azulino, Orlando Ruffeil, cravou que o jogo havia terminado em um empate sem gols.

Porém, em pesquisas realizadas no acervo da Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional, foi descoberta uma informação divergente aos dados clássicos sobre a história do futebol azulino. De acordo com nota no jornal "Estado do Pará", de 23/04/1913, intitulada "Chronica Sportiva", o Remo, na verdade, teria vencido o primeiro jogo, conforme se observa na passagem seguinte: "O correcto referee [árbitro], sr. Renato Amanajás, deu o seguinte resultado: Grupo do Remo, 2 goals [gols] e Guarany, 0" (grafia da época). 

Infelizmente, não se sabe os autores desses gols. Mas há registro das escalações dos clubes. O primeiro esquadrão azulino era formado por: Bernadino; Valrreman e Eurico; Dudú, C. Aimée e Mamede; Galdino, Mário, Antonico, Dudu e Rubilar. Já o Guarani se dispôs com Aldo; Waldemir e Joaquim; Bento (Bruno de Menezes), Americano e Pedro; Braga, Arlindo, Arthur, Ipixuna e Cunha. As equipes eram organizadas no 2-3-5 ou "Pirâmide", padrão tático da época. 

O que parece ser consenso é o jogo seguinte, disputado no dia 13/05/1913, em celebração à Abolição da Escravatura no Brasil, no mesmo local e contra o mesmo adversário. Dessa vez, o Remo goleou por 4 a 1 e coube ao lendário Rubilar, autor de dois gols, o feito de ser o primeiro jogador a balançar as redes adversárias defendendo o Remo. Segundo Ruffeil, inclusive este teria sido um gol olímpico! Antonico e Galdino completaram o placar. Naquele dia, o Remo atuou com Bernardino; Tupi e Minão; Chermont, Aimée e Mamede; Rubilar, Hugo, Antonico (capitão), Adolfo e Galdino.

O jornal “Folha do Norte", de 15/05/1913, na sua seção “Notas Sportivas" apresentou uma carta do colaborador “Violeta" sobre essa partida. Segundo a publicação, apesar da chuva torrencial que caíra momentos antes, a partida começou pontualmente às 16h30. O Remo mostrou-se superior em todas as linhas, prevalecendo sobre a tenaz resistência dos adversários, fazendo três gols logo no primeiro tempo. Já no segundo, os azulinos ampliaram, com o Guarany diminuindo a contagem. A nota finaliza da seguinte forma: 

"É-me grato registrar que o campo se achava devidamente cercado e marcado de accordo com as regras do jogo britannico, e mais ainda que os jogadores mostraram-se verdadeiros ‘sportmen’ [jogadores] obedecendo fielmente às decisões do referee, não havendo, durante o jogo um ‘foul’ [falta] sequer”.

O PAI DO FUTEBOL AZULINO

Em 15/08/1930, quando o Clube do Remo completou 19 anos de Reorganização, o jornal carioca "Correio da Manhã" publicou uma matéria especial sobre o acontecimento. Segundo a notícia - desconsiderando alguns erros de data -, o grande idealizador do futebol azulino foi Antonio Ribeiro da Silva, o Antonico, "excelente 'center-forward'" e "ardoroso cultor do jogo bretão". Ele "organizou com elementos do Club uma equipe a que dominou de Remo Football Team, resultando daí a fundação da Liga Paraense de Football e a animação e enthusiasmo pelo exercício desse sport, até então pouco propagado em Belém".

Ao que tudo indica, essa informação é um fato. Afinal, Antonico esteve presente nas primeiras escalações remistas, sendo reportado como o capitão da equipe. Ele foi o autor do primeiro gol azulino na história do Campeonato Paraense, na vitória de 4 x 1 sobre o União Sportiva, em 14/07/1913.

O GUARANY

Primeiro adversário do Clube do Remo no futebol, o Guarany já praticava esse esporte desde 1911 pelo menos. O time rubro-azul foi regular frequentador do Campeonato Paraense até por volta dos anos 30. Mas apesar dessa experiência, nunca foi um adversário à altura do Remo. Segundo dados do pesquisador Jorginho Neves - e considerando o primeiro jogo como vitória azulina, os remistas triunfaram todos os 18 jogos travados contra os "guaranymen". 

O PRIMEIRO "MATCH" ILUSTRADO

Ilustração: @design.ade (Instagram)

A primeira vez em que o Remo entraria em campo mudaria para sempre os rumos do futebol paraense. Porém, apesar de toda a sua sua importância, essa partida não foi eternizada através de um registro fotográfico - um luxo na época. Pensando nisso, a Enciclopédia do Leão em parceria com a Cultura de Remo (intagram: @culturaderemo/@design.ade) decidiu "recriar" um lance daquela peleja pioneira em um inédito desenho ilustrativo.

Esse trabalho é o resultado de árduas pesquisas nas coleções do jornal "O Estado do Pará" no site da Hemeroteca da BN. O maior desafio foi a representação dos jogadores, em especial dos "guaranymen". Após várias citações acerca das cores do clube, como "azul turquesa e vermelho" e "rubro-azul", encontrou-se a informação que descrevia em detalhes o uniforme do Guarany, na edição 823 do "Estado", de 13/07/1913, sobre a partida deste contra o Belém Sport: "camisas azul e encarnado, com listras verticais; calções brancos".

Ilustração: @design.ade (Instagram)

Quanto aos atletas azulinos, sabe-se através de relatos do historiador Ernesto Cruz, em seu livro "História do Clube do Remo" (1969), que o Remo disputava jogos-treinos com uma camisa listrada horizontalmente em azul-marinho e branco, estilo "marinheiro", (famosa camisa bretã), herança da náutica remista. Porém, não tem como afirmar se a mesma era usada em partidas oficiais/amistosos ou se os atletas já envergavam o tradicional manto azul-marinho (por isso a necessidade de duas ilustrações).

Por fim, o cenário da partida - a Praça Floriano Peixoto, correspondente ao largo de São Brás - traz elementos característicos da época: a arborização, fruto do processo de urbanização da cidade de Belém; a imponente caixa d'água com seus 20 metros de altura de puro ferro europeu; e a locomotiva da Estação Central, o início da Estrada de Ferro Belém-Bragança. Em conjunto, tornam o desenho o mais próximo possível da realidade, facilitando a imersão na época representada.

domingo, 13 de fevereiro de 2022

O Clássico Remo x Tuna

Lance de um Remo x Tuna provavelmente nos anos 40. Observa-se os azulinos Geju (mais ao centro) e Itaguary (à esquerda). Imagem colorizada por Adenirson Olivier

Remo x Tuna é considerado o segundo maior clássico paraense em nível de importância, atrás somente do Re-Pa. Conhecido também pela sigla Re-Tu, pode-se dizer que o clássico é o mais antigo do esporte paraense, considerando-se as origens náuticas de ambos os clubes no início do século 20. Enquanto o Remo surgiu em 1905, a Tuna, apesar de ter sido criada em 1903, só instituiu o seu setor de esportes em 1906. Desde então, ambos dominaram o cenário náutico do estado.

Entretanto, o confronto no futebol só aconteceria nos anos 30, quando a Tuna passou a de fato praticar o esporte. O primeiro jogo se deu no dia 15/11/1931, um amistoso que terminou empatado em 0 a 0. O clássico seguinte ocorreu na data de 03/01/1932, pelo Festival do Júlio César e, dessa vez, o Remo não tomou conhecimento da Lusa, vencendo por 4 a 1, no Baenão, gols de Marinheiro, Dino (dois) e Armando.

GOLEADA E RECORDE

No dia 01/01/1947, em pleno 44º aniversário tunante, o Remo goleou a rival por humilhantes 9 a 0, em jogo amistoso válido pelo Festival do clube Transviário. Apesar desse feito, a partida recebeu críticas por parte da imprensa, pois ambos jogaram com equipes essencialmente reservas. Geju, um dos poucos que figuravam no time titular, fez incríveis oito gols, uma façanha que só seria igualada por Bira décadas mais tarde.

Recorte do jornal Estado do Pará, de 03/01/1947

DECISÕES

Remo x Tuna já definiu o campeão paraense em 12 oportunidades, incluindo decisões diretas ou não. O Leão Azul saiu campeão em 10 oportunidades (1936, 1953, 1964, 1973, 1974, 1977, 1991, 1996, 2003 e 2007) contra apenas duas da Águia Guerreira (1951 e 1983).

ESTATÍSTICAS

Segundo números atualizados do site Futebol80 e adaptados com pesquisas próprias, estas são as estatísticas gerais de Remo x Tuna:

• Jogos: 518*.
• Vitórias do Remo: 228.
• Empates: 144.
• Vitórias da Tuna: 145.
• Gols do Remo: 772.
• Gols da Tuna: 609.
* 1 jogo sem registro de placar.

Atualizado até Remo 2 x 0 Tuna, em 30/03/2024.

REFERÊNCIAS:

1. O Festival do Julio Cesar. Estado do Pará, Belém, 4 jan 1932.

2. A Tarde de Ontem Não Teve Expressão Futebolística. Estado do Pará, Belém, 3 jan 1947.

3. COSTA, Ferreira da. Parazão Centenário — A História do Campeonato Paraense de Futebol. Teresina: Halley S.A. Gráfica e Editora, 2012.

4. CONFRONTOS. Futebol80. Disponível em: <http://futebol80.com.br/links/times/remo/remocft.htm/>. Acesso em: 17 fev 2022.