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domingo, 31 de julho de 2022

O Primeiro Título no Futebol

Em 1913, nas pessoas dos Srs. Galdino Araújo e Adolpho Silva, o Grupo do Remo participou do movimento instaurado pelos clubes e desportistas da época para reorganizar o futebol paraense, que já estava há dois anos sem disputa de campeonato. Desse processo, surgiu a Liga Paraense de Foot-Ball em 25/05/1913, em reunião realizada na Rua da Indústria (atual Rua Gaspar Viana), nº 1. O local era o escritório do inglês T. H. White, que foi eleito presidente da entidade, tendo os Srs. D’Artagnan Cruz e Smith como secretário e tesoureiro, respectivamente. 

A fundação da Liga Paraense de Foot-Ball. Estado do Pará, 27/05/1913

A Liga iniciou os preparativos para a realização dos Campeonatos da Primeira e Segunda Divisões. Entre eles, estava a concessão de uma área de 200 metros de comprimento por 90 metros de largura, na Praça Floriano Peixoto, no Largo de São Braz, atendida pelo Intendente Municipal de Belém, Dr. Dionysio Bentes. O local foi cercado por vigas de acapu e ligadas por um cabo de arame, além da construção um palanque provisório de seis metros de comprimento por três metros de largura para as autoridades e famílias assistirem às partidas.

O campeonato contou com as participações do Grupo do Remo, do Guarany, do Panther Clube, do União Sportiva, do Internacional de Foot-ball Association e do Norte Club. As partidas eram disputadas entre 14h e 18h para aproveitar a luz do sol já que não existia um sistema de iluminação para jogos à noite. 

O sistema de disputa era o mesmo implementado pela Football Association, da Inglaterra: pontos corridos — dois pontos em caso de vitória e um ponto se empate —, sendo campeão o time que somasse mais pontos ao final da competição. O jogo inaugural foi o empate de 2 a 2 entre União Sportiva e Internacional em 29/06, que contou com a presença do Intendente, Dionysio Bentes, e do Governador do Estado, Enéas Martins.

A estreia do Grupo do Remo se deu no dia 14/07/1913, uma segunda-feira. O jogo em questão foi aguardado com muito entusiasmo pela imprensa e pela numerosa torcida que compareceu à cancha, já que seria contra o valoroso União Sportiva, até então, bicampeão estadual. Entretanto, esse cartaz não intimidou os atletas azulinos, já acostumados com os grandes desafios desde as disputas náuticas. Isso refletiu no desempenho dentro de campo. Os remistas fizeram um jogo calmo e preciso, priorizando a aplicação tática entre as suas linhas, suplantando totalmente os unionistas que se limitaram a um jogo individual e descoordenado.

Coube ao capitão Antonico abrir o placar a favor dos azulinos, quase no final do primeiro tempo. O União partiu em busca do empate, mas a defesa remista estava esplêndida, rechaçando qualquer investida. No segundo tempo, mais uma vez Antonico, pela extrema-direita, vaza o gol adversário. Nesse embalo, Nahon marcou mais duas vezes a favor do Grupo do Remo. Quando faltavam apenas dois minutos para o apito final, Oscar diminuiu, mas a goleada já estava decretada: Grupo do Remo 4 x 1 União Sportiva.

Estado do Pará, 16/07/1913

A primeira equipe oficial era composta por: Bernadino; Galdino e Lulu; Carlito, Aimée e Chermont; Rubilar, Antonico, Nahon, Infante e Dudu. O jornal O Estado do Pará, de 16/07/1913, ressaltou os destaques do time azulino: 

Bernardino, como sempre, bom; Galdino e Lúlú, temíveis em suas linhas; Aimée, admirável e terrível naquella posição difícil de ‘center-half', foi um elemento magnífico na defesa ao lado de Carlito e Chemont que também contribuíram com uma bôa parcella de esforços para a formidável victoria do club. Da linha de ‘forwards' todos bons, salientando-se Nahon e Antonico que ‘marcaram’ os 4 ‘goals'".

Tabela do campeonato após a estreia azulina. O Grupo do Remo assumiu a ponta e não largou mais. Estado do Pará, 16/071913

No prosseguimento da competição, o Remo foi limando um a um os seus adversários. Emplacou uma sequência de vitórias, com os 4 a 0 sobre o Guarany, os 3 a 2 sobre o Panther, os 2 a 1 sobre o Internacional... Foi então que os azulinos conheceriam o seu grande adversário: o Norte Club, também chamado de Time Negra devido à cor da sua camisa. 

O embate entre ambos foi marcado para o dia 05/10/1913, um domingo. O jogo era o mais aguardado da temporada, pois envolvia as duas melhores e mais vitoriosas equipes, sendo tratado como o encontro decisivo do campeonato. Até aquele momento, o Remo era o líder com oito pontos — quatro vitórias em quatro jogos — enquanto que o Norte Club possuía seis — três vitórias em três jogos.

Dada a importância da partida, os times se prepararam com antecedência. O Remo era considerado favorito por ter os melhores “elementos” da “velha guarda", com mais experiência nos fundamentos técnicos, especialmente no chute e drible, graças aos treinos de seu rigoroso capitão Antonico, além de um maior cartel de vitórias. Já o novato Norte Club era composto em sua maioria por estudantes, cujo capitão era Hugo Leão, que seria o principal fundador do Paysandu.

Como já era esperado, Remo e Norte travaram um belíssimo embate. Segundo O Estado do Pará, de 07/10/1913, ainda não havia ocorrido um matchtão correctamente jogado, tão enthusiasmado e tão bem desenvolvido”. Diante de numerosa assistência, o confronto foi equilibrado, mas quem saiu na frente foi o Remo, em jogada que se iniciou de uma cobrança de escanteio. O zagueiro “camisa-preta" Moraes tirou de cabeça e, da mesma forma, o azulino Chermont rebateu a bola, que fora defendida por Sylvio, no canto. Com a confusa disputa dentro da área, a bola acabou entrando para o fundo das redes. No segundo tempo, Hugo Leão empatou o jogo em 1 a 1.

Esse seria o único “tropeço” do Remo no campeonato, ainda havendo tempo para vencer o Belém Sport por humilhantes 10 a 0, em 26/10. Assim, foi só aguardar o empate entre Norte Club e Guarany em 1 a 1, em 15/11, para que o Grupo do Remo não tivesse mais chances de ser alcançado e, consequentemente, ser declarado Campeão Paraense Invicto de 1913.

Todavia, o Norte Club ainda recorreu à justiça para tentar anular o seu jogo contra o Guarany. Felizmente, no dia 20/11, a Liga julgou esse recurso improcedente, mantendo o resultado e, por tabela, o primeiro título azulino da história. Mas esse fato geraria consequências no futuro...

Na condição de Campeão Paraense, o Grupo do Remo só seria devidamente premiado no dia 20/02/1914, quando recebeu das mãos do Dr. Gama Malcher, presidente da Liga, uma bela taça importada da Alemanha pela firma Krause, Irmãos e Cia. Medindo 60 centímetros de altura e 700 gramas de peso, a taça descansava sobre um pedestal de cedro que continha uma placa com os dizeres: “Liga Paraense de Foot-Ball – Campeonato de 1913”, repousando num estojo de veludo roxo.

O futebol azulino já nasceu campeão!

Foto reproduzida pela revista Caraboo, ano III, nº 30, de 05/02/1916, cuja legenda diz: “CLUBE DO REMO — Primeiro team de football no início da temporada de 1914”.

quinta-feira, 14 de julho de 2022

Tricampeão Paraense em 1975 (Invicto)

CLUBE DO REMO - TRICAMPEÃO PARAENSE INVICTO EM 1973/74/75

Visando consolidar de vez a sua soberania no estado, o Clube do Remo repatriou o técnico Paulo Amaral, que havia treinado o time no segundo semestre de 1973. O primeiro teste foi a conquista de um torneio internacional, arrematado após vitórias sobre Robin Hood, do Suriname, por 5 a 2, Tuna por 2 a 0 e Paysandu por 1 a 0, gol de Dutra, no dia 2 de março de 1975, no Baenão. 

Duas semanas depois, o Remo estreava no Campeonato Paraense com um passeio sobre o Sporting (7 a 0) e se manteve 100% até o último jogo da primeira fase do primeiro turno - os turnos eram divididos em duas fases -, quando empatou em 1 a 1 no Re-Pa de 27 de abril. Na fase final, vitória sobre Castanhal (4 a 0), empate com a Tuna (1 a 1) e vitória diante do Paysandu (1 a 0), esta em 25 de maio, deram o título ao Leão Azul.

No returno, a tônica foi a mesma. Na primeira fase, quatro vitórias e um empate. Já na fase final, após os 5 a 0 sobre o Castanhal e 1 a 0 sobre a Tuna, bastou um empate sem gols contra o Paysandu no dia 23 de julho, no Baenão, para o Remo sagrar-se campeão do segundo turno.  Logicamente, nessa condição o Leão teria que ser consagrado campeão paraense... Mas não foi o que aconteceu. 

Acontece que devido ao esdrúxulo regulamento, mesmo tendo arrematado os dois turnos, o Remo ainda não havia garantido o título. No máximo, teria a vantagem do empate na grande decisão contra o Paysandu, vice nas duas etapas anteriores. Caso perdesse, uma outra série decisiva seria disputada.

Chega então a memorável data de 3 de agosto de 1975. O Baenão, palco da peleja histórica, estava completamente tomado por exatos 29.940 torcedores, um dos maiores públicos do Evandro Almeida em todos os tempos, que pulsou quando adentraram em campo Dico; Rosemiro, Dutra, Rui e Cuca; Elias e Roberto; Prado, Mesquita, Alcino e Amaral. A Máquina Azul comandada por Paulo Amaral.

Com a bola rolando, o que se viu foi um Remo inicialmente jogando com o regulamento embaixo do braço, enquanto que o Paysandu, apesar de retraído no começo, se aproveitou da apagada atuação de Roberto no meio-campo, sobrecarregando Elias, necessitando que Mesquita viesse ao seu auxílio. Isso diminuiu o poder fogo azulino e facilitou para os bicolores, que perderam oportunidades de sair com a vitória no primeiro tempo.

Na volta do intervalo, os listrados se lançaram ao ataque, mas após a defesa azulina rechaçar, Elias lançou Roberto, que, marcado por Waltinho e Gilberto, e fez um belo corta-luz para Mesquita finalizar no canto e inaugurar o placar aos 45 segundos, quase colocando o Baenão abaixo com a explosão da torcida. Aos oito minutos, após jogada de Prado, Rosemiro lançou para Alcino, que dominou com muita categoria no peito, abriu para Mesquita que fuzilou o arco adversário. Reginaldo rebateu e Alcino aproveitou, marcando o seu 21° gol e se tornando, pela terceira vez consecutiva, o artilheiro do campeonato.

O gol do título

O Paysandu até descontou e chegou ao empate através de Bacuri, mas como ele estava impedido, o árbitro Saul Mendes anulou o gol, mantendo os 2 a 1 que perdurou até o final da partida. A vitória do Remo foi mais que merecida. Naquele dia, o Filho da Glória e do Triunfo chegara ao seu 51° jogo em três anos sem saber o que era uma derrota no Campeonato Paraense. Um feito único no Brasil. Um tricampeonato invicto que seria eternizado com as primeiras estrelas acima do escudo azulino.

A Máquina tricampeã invicta!