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sexta-feira, 15 de abril de 2022

Campeão Paraense de 2022

CLUBE DO REMO - CAMPEÃO PARAENSE DE 2022

No planejamento para 2022, o Remo repatriou o técnico do acesso de 2020, Paulo Bonamigo, que contaria com uma espinha dorsal do elenco do ano anterior, com a permanência de Vinícius, Marlon, Pingo, Anderson Uchôa, Érick Flores e  Felipe Gedoz, mesclando com contratações pontuais. Nesse aspecto, dentre tantas apostas e velhos conhecidos destacam-se os nomes do lateral-direito Ricardo Luz (acesso em 2020) e dos atacantes Bruno Alves e Brenner.

Brenner, o artilheiro azulino

Mesmo não apresentando um futebol convincente, o início de campeonato azulino foi muito bom, com três vitórias e um empate em quatro jogos. Entretanto, a partir da quinta rodada, contra a Tuna, o Remo emplacou uma incômoda sequência de empates, incluindo um contra o Paysandu, na Curuzu, deixando escapar a vitória nos últimos minutos.

Ainda assim, o Leão conseguiu se classificar como líder do Grupo C, com 14 pontos em oito jogos. Mesmo sendo o único invicto da competição até aquele momento, o jejum de vitórias incomodava e o time sofria duras críticas devido ao baixo desempenho dentro de campo. O estopim foi o 1 a 1 diante do Caeté, em Bragança, pelo primeiro jogo das quartas-de-finais do certame.

No treino aberto na véspera do jogo de volta, a torcida cobrou uma reação do elenco. Tal atitude se fazia necessária e a resposta veio dentro de campo. Apresentando seu melhor futebol até então, o Remo goleou o Caeté por 4 a 0, gols de Brenner, Érick Flores e Bruno Alves (2). Pode-se dizer que essa foi a virada de chave para o Clube do Remo no torneio. 

Nas semis, tal qual como ocorrera em 2021, o adversário foi a Tuna. Na ida, no Souza, o Remo venceu por 2 a 1; porém, na volta, no Baenão, o Mais Querido abusou de perder chances e acabou conhecendo a sua primeira derrota - 1 a 0 - forçando a disputa de pênaltis. Como de costume, brilhou a estrela de Vinícius, que defendeu duas penalidades e o Remo venceu por 4 a 2, devolvendo na mesma moeda a eliminação do ano anterior.

São Vinícius, mais uma vez, fazendo história!

A finalíssima não podia ser diferente. O Re-Pa decidiria o título. O Remo mantinha um tabu de oito jogos, mas a última derrota tinha sido justamente na final do Parazão 2020, vencido pelo rival. Além do mais, havia um certo favoritismo para o rival, que possuía a melhor campanha e chegava mais inteiro, já que o Remo não podia contar com peças importantes como Felipe Gedoz e Érick Flores, fora por causa de lesões. Mas, no Baenão lotado, que se transformou num verdadeiro caldeirão pelo Fenômeno Azul, o Rei da Amazônia atropelou e aplicou 3 a 0, no domingo, 3 de abril, gols de Brenner (2) e Anderson Uchôa. 

Teve "Lei do Ex"! Uchôa, ao centro, comemorando o terceiro gol da goleada sobre o rival

O derradeiro e decisivo jogo aconteceu na quarta, dia 6 de abril de 2022. O local era a Curuzu, onde o Remo havia conquistado seu último título em 1968 e só não comemorou em 1993, devido ao episódio da queda do muro e do apagão dos refletores. As chances de mudar isso eram boas. Entretanto, os azulinos entraram desligados e sucumbiram a um primeiro tempo avassalador do rival, que devolveu os 3 a 0 e acabou com a vantagem remista.

Todavia, no segundo tempo, o Leão se recompôs e equilibrou as ações, passando criar oportunidades de marcar. Foi então que aos 14', o lateral-esquerdo Leonan, em boa jogada tramada com o meia Marco Antônio, marcou um golaço de fora da área - com o pé direito! - calando completamente a Curuzu. O rival se desesperou e teve um jogador expulso, o zagueiro e ex-azuluno Marcão. Foi só controlar a partida e esperar o encerramento para a festa azulina em plena Curuzu, 54 anos depois!

Leonan, o herói do título

Ressalte-se que no momento da entrega da taça aos campeões, os refletores do estádio bicolor foram desligados, assim como fizeram em 1993. Tal atitude antidesportiva sofreu severas críticas por parte da imprensa e teve repercussão nacional. Mas, apesar desse ato medíocre do rival, que sentiu o golpe, nada apagaria o brilho da conquista do Filho da Glória e do Triunfo, campeão paraense de 2022, o campeão de milhões!

O capitão Marlon levantando a "Estrela do Norte"

Apaga luz, apaga tudo, só não apaga o brilho do título!

segunda-feira, 11 de abril de 2022

Campeão Paraense Feminino em 1983

A história do futebol feminino no Brasil é marcada por muita luta e superação. Desde a sua proibição durante a Era Vargas até a sua regulamentação como esporte profissional em 11 de abril de 1983, muita coisa aconteceu, mas o caminho ainda é longo para que a categoria seja tenha o seu real valor reconhecido. No meio desse processo está o Clube do Remo, que destaca-se como um dos pioneiros a fomentar a prática do futebol feminino no Pará.

Quem explica toda essa história é Joaquim Rangel, administrador das páginas "Azulinos da Cidade" e "Jornais e História" nas redes sociais (Instagram e Facebook), que dedicou seu tempo a estudar sobre a origem do futebol feminino azulino e compartilha com o blog a sua pesquisa:

"Falar de futebol feminino no Brasil antes de tudo é falar de política. Afinal, o futebol feminino tem uma particularidade em relação ao futebol masculino, pois as mulheres até o final da década de 70 eram proibidas por lei a praticarem o esporte mais popular do país. Apenas em 1979 o decreto que restringia a prática futebolistica as mulheres foi revogado, mas somente no dia 11 de abril de 1983 o futebol feminino foi regulamentado por lei, se tornando então um esporte profissional do Brasil.

Dentro deste contexto, a Federação Paraense de Futebol organiza no final de 1983 pela primeira vez em sua história o Campeonato Paraense de Futebol Feminino, que contaria com a presença de Remo, Paysandu, Tuna e Yamada na disputa pelo título. 

Como era tradição na época, o Campeonato contava com um 'esquenta' conhecido como Torneio Início, que costumava ser realizado em um único dia, com partidas amistosas onde tudo valia ponto, inclusive escanteios, chutes a gol, número de faltas e cartões eram critérios de desempate; vale destacar que o torneio terminou com o Clube do Remo se sagrando campeão. No entanto, neste torneio início em particular foi realizado um concurso de beleza entre as atletas para eleger qual time tinha a atleta mais bonita, reforçando que por mais que as mulheres tenham conquistado o direito de jogar futebol profissionalmente a luta ainda seria grande para que seu trabalho fosse de fato reconhecido pelo desempenho dentro de campo e não pelo fetichismo social ao entorno do corpo feminino.

O Campeonato Paraense oficialmente começou em outubro de 1983, tendo o Clube do Remo como o campeão de seu primeiro turno e conquistando assim uma vaga na final. Já no segundo turno Paysandu, Tuna e Yamada disputaram com ainda mais raça tentando impedir que as Azulinas levassem a taça direto. Na última rodada do segundo turno Remo, Tuna e Paysandu brigavam na ponta da tabela, as Cruzmaltinas precisavam vencer da  Yamada e torcer para o Remo vencer do Paysandu, assim sendo a final do segundo turno seria entre Remo e Tuna. Entretanto, a Yamada surpreendeu e venceu as Cruzmaltinas, e no jogo realizado na Curuzu as bicolores superaram as Azulinas por 2x1 e passaram para a final. Uma curiosidade nessa partida é que a goleira do Remo foi acusada de 'entregar' o gol da vitória bicolor, pois um clássico na final do segundo turno seria mais atrativo e traria mais visibilidade. 

Como o Remo fez a melhor campanha, teve a vantagem de decidir o título em casa. No entanto, a Federação Paraense teve a "brilhante" ideia de marcar a final para o dia 17 de dezembro de 1983, mesmo dia em que Remo e Tuna se enfrentavam no Mangueirão pela final do Campeonato Masculino. O público foi fraquíssimo na final feminina mesmo com os portões abertos para a torcida sem cobrar ingresso, o foco naquele dia seria mesmo no Mangueirão, quando sem saber a Tuna conquistaria seu último título de Campeão Paraense até então.

Mas no Baenão as atletas de Remo e Paysandu nada tinham com isso, entraram em campo focadas, pois em caso de vitória do Paysandu o título do segundo turno lhe daria direito de jogar mais uma partida para decidir quem ficaria com a taça do campeonato, e em caso de vitória das Leoas o título Paraense estaria certo, pois já haviam vencido o primeiro turno. Dentro de campo a superioridade azulina se confirmou quando Cebolinha marcou o gol do título aos 14 minutos do primeiro tempo. De lá pra frente o jogo ficou aberto e a goleira Azulina chamada Shirley com certeza foi a atleta que mais trabalhou naquela partida. Ao final do jogo em uma entrevista ela declarou que havia provado de uma vez por todas que as acusações de ter entregado o jogo na Curuzu eram falsas, chorou e foi consolada por suas colegas e pela torcida que invadiu o campo para comemorar com as suas campeãs. Shirley acabou se tornando ao lado de Cebolinha uma das heroínas do título de 1983. 

O dia 17 de dezembro de 1983 poderia ser um dia fatídico para o Remo, pois a final perdida para a Tuna dói até hoje dentre os Remistas mais antigos, mas naquele dia o futebol feminino Remista provou seu valor e colocou na galeria de troféus do Remo o primeiro título estadual da história. Está escrito, ninguém nunca vai apagar, nós somos as eternas campeões de 1983!".

As pioneiras campeãs paraenses (arquivo Joaquim Rangel)

FICHA TÉCNICA DA FINAL

17/12/1983.
REMO 1 X 0 PAYSANDU.
Paraense 1983 – Final.
Estádio Evandro Almeida/Baenão.
Árbitro: Francisco dos Reis Padilha.
Remo: Shirley; Maria, Odirene, Mira e Paula (Amélia); Sandra, Angela e Adília; Bernardeth, Cebolinha e Pelezinha.
Paysandu: Ana Nery; Helena, Lúcia, Margareth e Regina; Aparecida, Márcia Julia, Erika; Camila (Niza), Márcia Pedrosa e Wilma (Marcinha).
Gol: Cebolinha (14'/1T).
Cartões Amarelos: Pelezinha; Margareth.

Pesquisa e texto: Joaquim Rangel.